Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completam neste sábado (11) 150 dias, mas seguem ainda sem solução. O prazo supera o dobro do levado até o indiciamento dos culpados em dois outros casos rumorosos. Na morte da juíza Patricia Acioli (assassinada em uma emboscada armada por milicianos), em 2011, foram 50 dias entre o crime e o indiciamento dos responsáveis. Já no sumiço do pedreiro Amarildo de Souza (levado por policiais na Rocinha), em 2013, o prazo foi de 75 dias até todos serem formalmente indiciados.
A demora nas investigações do caso Marielle preocupa especialistas em segurança pública. Segundo a Agência Brasil, eles argumentam que o avançar do tempo é inimigo da resolução do caso, embora concordem que é preciso haver um trabalho fundamentado, com provas fortes, para prender os verdadeiros culpados.
“Estou muito preocupado. Esperava um prazo mais curto. Quanto mais o tempo passar, mais difícil será resolver o caso”, declarou o sociólogo Ignácio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência (LAV), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Para ele, o caso é mais complexo do que o de Patricia Acioli e Amarildo, por isso está levando mais tempo. “A diferença é que este caso foi uma morte muito planejada, executada por profissionais e com muitos recursos. Este caso acende um sinal vermelho, sobre o risco da violência avançar sobre a política brasileira, em uma situação que se tornará muito difícil”, advertiu.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da Secção Rio de Janeiro está acompanhando desde o primeiro dia o caso de Marielle e Anderson. O presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ, Breno Melaragno, destacou que confia em uma conclusão do inquérito, mas admitiu que a investigação está demorando além do desejável.
“É fato que está demorando muito. Mas como certamente envolve agentes de Estado, talvez agentes políticos e de segurança pública, a dificuldade que demanda mais tempo possa estar nisso. Mas não tenho dúvida de que vão chegar a uma conclusão, apontando os autores do crime”, disse o advogado.
Ele reconheceu que a demora causa uma grande angústia na sociedade e principalmente nas famílias das vítimas. “Infelizmente, o tempo é necessário para que a investigação seja correta, que aponte os verdadeiros culpados. Às vezes, quando uma investigação é muito curta, aponta inocentes. Por outro lado, concordo que o tempo está excessivo”, disse Melaragno.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Seseg) e a Polícia Civil foram procuradas para se pronunciarem sobre o caso, mas informaram que não irão divulgar informações sobre a investigação, que está sob sigilo.
Nos últimos dois dias, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que há “agentes públicos” e também “políticos” envolvidos na morte da vereadora, e que o crime pode ter sido motivado por disputas políticas e negociações para indicações a cargos públicos. Ele não citou nomes nem entrou em detalhes.
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