“Aparelho Sexual e Cia.” é o nome do livro que Jair Bolsonaro, entrevistado ontem na bancada do Jornal Nacional, tentou mostrar às câmeras e foi impedido pelos apresentadores, com a justificativa de que o ato contraria as regras estabelecidas na transmissão.
Com o livro na mão, Bolsonaro falou: “Um pai não quer chegar em casa e ver o filho brincando com boneca por influência da escola”. Mas do que trata o livro?
“Aparelho Sexual e Cia.”, foi escrito por Zep (pseudônimo do autor suíço Philippe Chappuis) e traduzido para mais de dez idiomas, com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos. No Brasil, foi publicado pela Companhia das Letras em 2007 e atualmente está fora de catálogo.
Dividido em seis capítulos, é um guia que utiliza toques de humor e linguagem de histórias em quadrinhos para falar sobre sexualidade, amor e relacionamento para o público infantojuvenil.
Aqui vale um parênteses. Sempre que aborda a obra, o candidato a aproxima da faixa etária de seis anos. Uma criança dessa idade ainda está em fase inicial de alfabetização e não apresenta, no geral, capacidade de leitura para compreender sozinha a linguagem escrita e visual utilizada na narrativa.
Para um menino ou uma menina de seis anos ter contato com o título, provavelmente será a partir da mediação dos pais. Uma leitura independente se torna mais factível a partir dos nove anos.
Voltando ao livro, o primeiro capítulo fala de relacionamentos. O que é estar apaixonado? O que é sair com alguém? Como é beijar? O seguinte discorre sobre a puberdade e as mudanças corporais sofridas por garotos e garotas: mudanças na voz, crescimento dos seios, surgimento de pelos, acentuação dos odores etc.
Em seguida, vem a parte do sexo. Com linguagem didática, perguntas diretas e respostas claras, a obra explica o que é transar, o que é uma ereção, como funciona o orgasmo e a anatomia dos órgãos sexuais. A informação quase sempre é precisa e sem tabu.
Sobre o que é transar, por exemplo, o livro diz: “Quando você sente atração por uma pessoa, fica a fim de se aproximar cada vez mais dela. Assim, os namorados vão unir seus corpos pelos órgãos genitais. O órgão masculino é que vai penetrar o feminino”.
O quarto capítulo aborda a maternidade e a corrida dos espermatozoides rumo ao óvulo, mesclando ciência com linguagem de tirinhas de jornal. Depois é a vez de falar sobre contracepção e higiene. Por fim, há um serviço completo sobre quem procurar em casos de abuso ou pedofilia.
Durante todo o livro, o personagem principal interage com o universo da sexualidade procurando gerar um efeito cômico. Ele se beija no espelho para treinar, não entende muito bem como funciona uma relação sexual e, muitas vezes, imagina as coisas da maneira mais literal possível.
A abordagem lembra a de outros livros infantojuvenis que fizeram algum sucesso no passado. Um dos casos mais recentes é o da série publicada pela Melhoramentos no início dos anos 2000 que traz títulos como “Coisas Que Todo Garoto Deve Saber Sobre Garotas”, “Coisas Que Toda Garota Deve Saber Sobre Garotos” e “Beijos – Coisas Que Todo Mundo Quer Saber”. Nesse sentido, “Aparelho Sexual e Cia.” não inventa a roda nem está sozinho.
Em vídeo publicado em suas redes sociais em 2016, Bolsonaro afirma que o título “é uma porta aberta para a pedofilia” e diz equivocadamente que ele foi comprado por programas federais como o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) -na verdade, a obra foi adquirida pelo MinC (Ministério da Cultura) para bibliotecas.
No mesmo vídeo, o capitão reformado afirma sobre o conteúdo que “todo ele é uma coletânea de absurdos que estimula precocemente as crianças a se interessarem por sexo”.
A Unesco, ligada às Nações Unidas, lançou em 2014 um guia para os professores brasileiros sobre como abordar a educação sexual com alunos. Além disso, já declarou no Brasil que a educação sexual e de gênero nas escolas pode ajudar a prevenir a violência contra as mulheres.
Na França, o livro inspirou uma exposição infantil sobre sexualidade, com informações e atividades interativas inspiradas nos capítulos. A mostra foi aberta ao público em 2007 e depois viajou por diferentes países da Europa.
Não é a primeira vez, porém, que a obra causa polêmica no Brasil. A Promotoria do Distrito Federal já havia pedido esclarecimentos sobre o livro à Companhia das Letras em 2015. Na época, pais questionaram o conteúdo de “Aparelho Sexual e Cia.”, adotado por um colégio.
Com informações da Folhapress e Notícias ao Minuto.
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