Editorial, Estadão
Com inflação contida e sem muita pressão à vista, o Banco Central (BC) encontrou espaço para manter os juros básicos em 6,50% e continuar garantindo algum alento aos negócios. Num país com 13 milhões de desempregados e lenta expansão econômica, é importante evitar, tanto quanto possível, novo aperto do crédito, apesar da incerteza política, da fragilidade fiscal e do ambiente externo ameaçador. Juros moderados também aliviam o custo de uma dívida pública já superior a 77% do Produto Interno Bruto (PIB), proporção excessiva para um país de renda média. Em pouco menos de dois anos o corte da taxa básica, de 14,25% para 6,50%, já contribuiu de forma importante para reduzir o custo financeiro suportado pelo Tesouro Nacional.
Não seria o caso, no entanto, de baixar novamente a Selic, a taxa básica, para injetar mais vigor na atividade e reduzir mais velozmente o desemprego? Afinal, o quadro econômico, segundo o próprio BC, “prescreve política monetária estimulativa”, com juros abaixo da taxa estrutural. O caminho de novos cortes seria muito bom, se fosse possível manter essa política sem recuo dentro de alguns meses. Mas o Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, tem razões muito fortes para ser cauteloso.
As projeções do mercado apontam inflação em torno de 4% neste e no próximo ano, com juros de 6,50% no fim de 2018 e de 8% no encerramento de 2019. O cenário basicamente se mantém em 2020. As estimativas do comitê indicam resultados parecidos. Em outras palavras, seria irrealista esperar um recuo da inflação, nos próximos dois anos, mesmo com juros básicos pouco mais altos que os atuais.
Sem segurança para novos cortes da taxa, o Copom tenta pelo menos manter a Selic em 6,50%, evitando, por algum tempo, novas altas. Essa taxa, em vigor desde 22 de março, foi preservada nas três sessões seguintes do comitê. A última decisão foi anunciada na quarta-feira, ao anoitecer, depois de dois dias de exame de informações e de debates. O comitê, formado por diretores do BC, foi unânime na conclusão.
Não há indício, no informe distribuído depois da reunião, do rumo provável da política de juros. Sinalizações têm sido frequentes, nos comunicados do Copom, mas a soma das incertezas internas e externas tem recomendado cautela especial na comunicação e, portanto, na geração de expectativas. Do lado externo, o cenário continua “desafiador”, de acordo com a nota do comitê.
Tensões comerciais, centradas na disputa entre Estados Unidos e China, refletem-se nos mercados de câmbio e de capitais. Também há pressões derivadas do aperto gradual da política monetária nos Estados Unidos. Esse aperto afeta o crédito, os fluxos de capitais e o câmbio, valorizando o dólar. O real tem sido uma das moedas mais pressionadas pela alta da moeda americana.
A boa notícia da semana foi a manutenção dos juros básicos na faixa de 1,75% a 2% pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). O anúncio foi feito na quarta-feira à tarde, pouco antes de terminar a reunião do Copom. Essa decisão é uma trégua bem-vinda, mas novas altas devem ocorrer nos próximos meses.
Internamente, têm-se dissipado os efeitos da paralisação do transporte rodoviário em maio. A interrupção das entregas e a insegurança criaram um forte impacto inflacionário, mas a variação dos preços já está bem mais moderada. O impacto, segundo o Copom, deve ter sido temporário, mas, ainda assim, será preciso acompanhar os desdobramentos.
É necessário, enfim, levar em conta a incerteza sobre as eleições e sobre o futuro das políticas de ajustes e de reformas. Sem o avanço dessas políticas, advertiu de novo o Copom, serão provavelmente perdidas as conquistas acumuladas no controle da inflação. Afinal, a maior fonte de pressões inflacionárias no Brasil, é bom lembrar, é o enorme desajuste das finanças públicas. Em suas falas, mesmo quando tratam de juros, os candidatos à Presidência têm normalmente passado longe desse detalhe. Que, lamentavelmente, é da maior importância.
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