por Fernando Duarte / BN
Até bem pouco tempo, o nome do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) seria facilmente cravado como o personagem principal das eleições de 2018 no Brasil. Afeito a temas polêmicos, o parlamentar construiu a própria candidatura em torno de uma “mitificação” dos discursos que atingem demandas sociais crescentes, com destaque para a segurança. No entanto, iniciada a campanha eleitoral efetiva, Bolsonaro começa a ser desidratado e não seria surpresa o deputado deixar o pleito ainda no primeiro turno.
A pesquisa CNT/MDA divulgada nesta segunda-feira (20) não testou o cenário provável das urnas em outubro, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser substituído por Fernando Haddad como candidato ao Palácio do Planalto pelo PT. No entanto, mostrou a tendência de que Bolsonaro atingiu um teto de intenções de votos que dificilmente será transposto com o parco tempo de rádio e televisão que o candidato dispõe. O levantamento do Ibope, divulgado no final do dia, confirmou a indicação de que o deputado federal parece ter atingido um teto.
Haddad é o candidato favorito para receber os votos daqueles eleitores de Lula, que lidera as pesquisas. Se o petista conseguir absorver as intenções de voto já tradicionais da esquerda no Brasil – somadas ao potencial do ex-presidente como avalista de candidatura, provavelmente Haddad estará no segundo turno. Para isso, o PT precisa torná-lo candidato, como defendeu com sapiência o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, que também era cotado para o posto.
Outro candidato, Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu reunir o maior tempo para propaganda eleitoral ao fazer a coligação com o “centrão”. Caso consiga efetivar o efeito desse espaço nos veículos de comunicação, o tucano apresenta um potencial de crescimento relevante e pode estar no segundo turno.
Pesa contra Alckmin, como se sabe, um alto índice de rejeição. O levantamento CNT/MDA aponta que Bolsonaro e Alckmin estão entre os que lideram o quesito “candidato que não votariam de jeito nenhum”. O deputado do PSL tem 53,7% nesse item, enquanto Alckmin aparece com rejeição de 52,5%. Como ambos apresentam potencial positivo similar, o tempo de propaganda eleitoral tende a ser decisivo para verificar quem deve crescer durante a campanha até chegar o dia da votação. Assim, o tempo de rádio e televisão, se bem usado, pode reduzir os impactos negativos da fama de “picolé de chuchu” do tucano.
Outros dois candidatos tradicionalmente considerados competitivos, Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) também poderiam brigar por uma vaga no segundo turno. Todavia devem enfrentar um problema similar ao de Bolsonaro: não terem um padrinho transferidor de votos ou tempo de exposição suficiente no rádio e televisão. Como os debates não parecem promissores para a defesa de projetos e ideias, estariam fadados a serem coadjuvantes.
No cenário atual, com Bolsonaro sendo o principal alvo de Alckmin, Marina e Ciro, o deputado do PSL deve perder espaço na mesma velocidade com que brada opiniões polêmicas. Caso se confirme o teto das intenções de voto, uma tendência presente nas mais diversas pesquisas, preparemo-nos para outro round da batalha entre o petismo e o tucanato, mantendo a dicotomia repetida desde as eleições de 1994 no Brasil. Um sinal de que andamos em círculos para chegar a lugar algum. Para alguns, infelizmente. Para outros, uma opção menos pior do que o rascunho de algumas semanas atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário