Ramiro Aquino
aquino05@uol.com.br
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Inexperiente, despreparado, tosco até, um homem nada talhado para o importante cargo de dirigir o município de Itabuna. Estas foram algumas das afirmações que fizeram em torno de José Nilton Azevedo Leal, no máximo considerado gente boa, um amável diretor do órgão de trânsito da cidade, que seria eleito fácil para a Câmara Municipal, mas que não servia para Prefeito de Itabuna.
Quando resolveu lançar o seu nome à sucessão de Fernando Gomes, em 2008, esperou do amigo o apoio incondicional, que não veio, especialmente porque patinava num desconfortável índice entre 1 e 2 pontos nas primeiras pesquisas de intenção de voto.
O obstinado Capitão da Reserva da PM me confidenciou um dia num café da manhã na Facsul: “Rapaz, não pensei que a coisa era tão difícil. Alguns partidos tem me procurado para oferecer apoio, mas falam logo em dinheiro. Onde vou arranjar 100 ou 200 mil? E mesmo que arranjasse não pagaria. Mas não vou desistir, vou de porta em porta buscar o voto em todos os lugares”.
E assim o fez. Suas andanças olímpicas, de homem acostumado aos exercícios militares, deixavam os correligionários para trás nas ladeiras calçadas ou nos morros íngrimes dos bairros mais simples, sem qualquer beneficiamento e até mesmo quando caminhava na planície, pedindo o voto a quem encontrava.
O carisma do Capitão, a empatia com o povo mais simples, o carinho com as crianças, recebiam uma contrapartida que o entusiasmava. Maria Alice, desgarrada da indecisão de Fernando Gomes, reuniu uma equipe que sonhava com o que poucos acreditavam, o crescimento da campanha. E os índices cresciam. Nas vésperas do pleito os adversários se assustaram, deram um tiro no pé com a coligação estapafúrdia e a última caminhada da campanha mostrou que a vitória era certa.
Eleito com 12 mil votos à frente da segunda colocada, restava formar a equipe e superar as afirmativas contrárias da “inexperiência” e do “despreparo”, agora reforçada com a de “continuista” de Fernando Gomes, que de última hora, a contragosto, resolvera ficar ao seu lado. Afinal, porque não daria certo? Militar com passagem pela Academia da PM, bacharel em Educação Física (professor na área) e bacharel em Direito, experiência por mais de 15 anos à frente da Ciretran, Secretário de Transporte e Trânsito, uma equipe potencialmente boa. Será que estes fatores não serviam como predicados?
Foi um começo difícil. Uma epidemia de dengue pela frente, sequestro de verbas tidas como certas, nenhuma intervenção concreta do Governo do Estado na cidade (exceto em 2009 na crise da dengue), não impediram que as realizações fossem acontecendo com as parcerias com a comunidade, com fornecedores, com deputados e com o Governo Federal.
Uma das grandes iniciativas do prefeito foi a criação de uma das mais importantes unidades do governo, a Secretaria de Planejamento, onde foi montada uma equipe de alto nível, que encaminhou projetos consistentes para o Governo Federal, nenhum recusado, graças à qualidade técnica do pessoal.
O prefeito “inexperiente” e “despreparado” ganharia outros apelidos: “indeciso” (quando não caiu no canto da sereia do governador Wagner para entrar na base aliada) ou “frouxo” (não mandava, os secretários faziam o que queriam). Mesmo quando substituiu alguns membros do primeiro escalão as críticas não cessavam.
O fenômeno eleitoral de 2008 ouvia a tudo, enquanto isso trabalhava. Fazia em obras o que “nunca antes tinha acontecido na história dessa cidade” (parodiando a frase cunhada pelo ex-presidente Lula). Transformou literalmente, para melhor, alguns bairros, investiu em saneamento básico, abriu avenidas, revitalizou outras, realiza a maior obra do seu governo (a macrodrenagem e urbanização do canal lavapés), construiu creches e entregou casas populares, construiu pontes em locais estratégicos, quando muitos “construiam muros” para impedir o desenvolvimento da cidade. E outro fenômeno acontecia. Diferentemente do que era visto antes, o povo reconhecia as obras de saneamento que ficavam em baixo do chão, comprovada nos altos índices de aceitação popular a ele atribuídos nos bairros que receberam esse beneficiamento.
Enquanto os adversários pontuam que as grandes obras do seu governo têm o carimbo da União, ele afirma: “O Palácio do Planalto apóia bons projetos, não vê cor partidária e nunca recusou os nossos, por isso a parceria acontece e o dinheiro vem. Fazemos bem feita a nossa parte e o Governo Federal faz a parte dele.”
Tudo isso permitiu que ele postulasse legitimamente, numa união de mais de uma dezena de partidos, continuar por mais quatro anos à frente dos destinos de Itabuna. Caberá aos itabunenses tomar uma decisão madura e coerente em 7 de outubro.
Ramiro Aquino é jornalista e cerimonialista.
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