O reflexo do aumento dos combustíveis na rotina do baiano
Flávia Requião**Foto: Marcelo Casal Jr./ Agência Brasil
Que o poder de compra diminuiu, não é novidade, mas o que tem ultrapassado o limite de valores, impactando diretamente a vida dos baianos é a alta dos preços dos combustíveis, que tem sido recorrente nos últimos meses.
O reflexo dos reajustes para cima, principalmente do diesel, que na Bahia está mais caro que a gasolina, é o encarecimento de diversos produtos.
Segundo a economista e Supervisora Técnica Regional do DIEESE, Ana Georgina Dias, o aumento repercute no frete e no valor final dos produtos.
“A partir do momento que, por exemplo, aumenta o diesel, impacta no frete, então as mercadorias transportadas também aumentam. No geral, o avanço no preço dos combustíveis, significa espalhar a elevação para outros itens e outros serviços da economia, gerando um crescimento inflacionário, como já estamos vendo nos últimos meses”, explicou em conversa com o bahia.ba.
Para Georgina, esse avanço tem um impacto gigantesco, sobretudo para as famílias baianas de menor renda.
“O gás de cozinha, o GLP, tem um impacto também gigantesco sobre as famílias de menor renda. Em média, um botijão de gás de 13kg custa mais de 10% do salário mínimo, nem todas as famílias conseguem arcar com esse custo. Além disso, o aumento dos combustíveis também acaba elevando o preço do transporte público e os transporte por aplicativo, tendo um impacto grande”, disse.
De acordo com a economista, o setor mais afetado é o de transporte, tanto público, quanto privado.
“O setor de transporte, de modo geral, é muito afetado por essa alta. Nesse momento, o diesel custa mais caro que a gasolina e ao longo do período de início da operação da Acelen, com a privatização da Landulpho Alves (RLAM) em 1 de dezembro do ano passado até agora início de maio, já temos uma elevação do custo das refinarias para as distribuidoras de mais de 58%”, afirmou.
A supervisora ratificou que a prefeitura de Salvador ainda tem segurado o custo das tarifas de ônibus, mas que em junho, caso não haja qualquer subsídio, o soteropolitano vai passar a pagar R$ 4,99 na passagem. “Um impacto muito grande”.
“Muitas transportadoras também têm feito relatos do peso do combustível na sua planilha de custos, muitas até preferindo abastecer em outros estados como Pernambuco e Sergipe, que tem outras refinarias com preços menores”, declarou.
Ainda segundo Ana, os próprios postos de combustíveis têm se queixado que com o aumento, eles têm vendido muito menos. “Ainda que o preço seja maior, como eles estão vendendo uma quantidade menor, não é tão positivo para eles”.
De acordo com Georgina, para a sociedade o aumento dos preços dos combustíveis não é positivo, exatamente pela inflação que trás e pela queda do poder de compra pela população.
O dia a dia dos baianos tem sido bastante comprometido por esse aumento. Em conversa com o bahia.ba, o marceneiro Edson de Oliveira disse que os reajustes têm impactado em tudo na sua rotina e no seu trabalho.
“O preço reflete no meu produto final, pois a entrega é realizada com carro. Quando pego obras na linha verde, por exemplo, o custo sai muito alto. Estamos com uma obra em Itacimirim, vamos mandar o material todo através do frete e só depois vou lá montar. Antigamente eu daria duas viagens”, disse.
A semana de seu Edson também mudou, hoje o meio de transporte mais utilizado por ele é o metrô. “Antes eu gastava R$ 300 por semana com gasolina, hoje eu e o meu filho juntos gastamos em média R$ 88 por semana indo de metrô”.
Já para o seu filho, o estudante Guilherme Lima, sair se tornou uma atitude de economia. “ Eu penso duas vezes antes de ir aos lugares e tenho andando de skate, bicicleta, metrô e até vou andando para economizar”.
Não só Guilherme tem repensado às saídas, mas os estudantes Yasmin Risso e Bruno Bacelar têm passado pelo mesmo processo.
“Hoje em dia penso dez vezes antes de sair, penso se preciso mesmo sair para fazer o que tenho mesmo que fazer, e antigamente não tínhamos esse peso de que a gasolina está cara e temos que economizar”, comentou Risso.
Já para Bruno, ir de Lauro de Freitas a Ondina todos os dias para assistir aula, tem gerado um custo muito superior ao de alguns anos atrás. “Hoje, em média eu gasto R$ 480 por mês, em 2018, quando comprei o carro, eu gastava no mês uns R$ 200”.
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