O relógio biológico, presente em todos os seres vivos, determina seu batimento cardíaco, a atividade digestiva, a produção de hormônios, tudo regulado pela exposição à luz da hemoglobina, que leva ao cérebro a informação de ser dia ou noite, e que se repete praticamente nos mesmos horários, em um ciclo de 24 horas, o que deu origem a uma busca incessante, pelo homem, da medição do tempo.
Desde a Antiguidade, quando os egípicios e babilônios perceberam que o Sol provocava sombra sob os objetos e que durante o dia esta se movia, variando de posição e tamanho, os homens primitivos passaram a utilizar a sombra do próprio corpo para estimar o tempo, mas logo perceberam que com uma vareta espetada verticalmente no solo, podiam fazer as mesmas estimativas.
A partir dessa observação veio a criação do Gnômon - a parte do relógio solar que possibilita a projeção da sombra - e estava então estabelecido o que seria o início de todos os relógios solares posteriormente surgidos, uma das mais antigas invenções humanas, e origem de todos os atuais relógios.
Existem relatos creditando essa invenção a Anaximandro de Mileto, mas Heródoto dava este crédito aos babilônios, que posteriormente teriam repassado aos gregos os conhecimentos da esfera celeste, do gnômon e das doze partes do dia e Anaximandro seria apenas seu introdutor na Grécia, assim como na China Shen Kuo teria aferido e melhorado o gnômon.
Após os relógios de sol, em torno do século 16 a .C., na Babilônia e no Egito surgiram alguns relógios rústicos de água (clepsidras) e os de areia (ampulhetas), mas seu aparecimento na Judéia só foi relatado em torno de 600 a .C.
O primeiro relógio mecânico, um complexo sistema de engrenagens e 60 baldes de água, correspondentes a 60 segundos, e que realizava uma reviravolta total em 24 horas, foi desenvolvido pelo monge budista chinês Yi Xing, em 725 a .C., e apesar de no mundo ocidental ter-se o papa Silvestre II como inventor do primeiro relógio mecânico, outra indicação de que os primeiros deles foram inventados pelos asiáticos é o relato histórico de que em 797 o Califa de Bagdá presenteou Carlos Magno com um elefante asiático, chamado Abul-Abbas e junto a este um relógio mecânico de onde saía um pássaro anunciando as horas.
Após essa invenção, estes passaram pelas mãos de muitos aperfeiçoadores, até que por volta de 1500, na cidade de Nuremberg, Pedro Heinlein fabricou o primeiro relógio de bolso - durante muito tempo o símbolo da aristocracia -, e em 1595 Galileu Galilei descobriu a Lei do Pêndulo.
Desde então surgiu uma variedade enorme de técnicas para registrar a passagem do tempo, como os relógios de pêndulo, os automáticos, cronômetros, de quartzo, digitais e os atômicos, os mais precisos atualmente existentes.
Durante conversas de Santos Dumont com seu amigo Louis Cartier, aquele comentou uma necessidade sua e este, com auxílio do mestre relojoeiro Edmond Jaeger, em 1904, criou o protótipo do primeiro relógio de pulso, para auxiliar Dumont ver as horas sem a necessidade de retirar as mãos dos comandos da aeronave.
Com essa breve história podemos entender como, através de máquinas, o ser humano está sempre em busca do que a natureza sempre lhe ofereceu. Milhares de séculos já se passaram em busca de marcadores cada vez mais precisos do tempo, como os atuais relógicos atômicos, mas durante o mesmo período o relógio biológico e as sombras provocadas pelo sol em nada foram alterados.
Em qualquer setor, por maior que seja a tecnologia utilizada, o homem está a milênios de distância da perfeição da natureza.
João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br Jornalista, escritor e produtor rural (Texto recebido do autor)
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