Enquanto 2017 registrou 295 casos, 2021 atingiu 682, mostra DataSUS; o ano passado teve 56% do total de 2021.
Foto: Marina Silva / CORREIO
Com apenas quatro anos, o pequeno Braian de Oliveira já passou por mais de 40 sessões de quimioterapia e 14 de radioterapia. Em 2021 ele recebeu o diagnóstico de Tumor de Wilms, tipo de câncer renal, fez cirurgia de remoção de um rim e continua em tratamento. A história de Braian faz parte dos 682 casos de câncer infantil identificados no ano retrasado, conforme dados do DataSus para a Bahia. Em 2017, há cinco anos, o número era de 295 casos, menos que a metade de 2021. Conteúdo Correio
Em 2022, foram 387 diagnósticos de câncer na faixa etária de 0 a 19 anos. O valor representa 56,7% de todos os casos registrados no ano anterior. Se compararmos toda a série histórica, que tem dados até 2013 (317 casos), o crescimento de casos de câncer entre crianças e jovens duplica, comparado a 2021. Os dados do DataSUS são a soma de registros do Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em paralelo, dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) revelam que o número de internações por câncer foi de 1.686 na faixa etária de 0-19 anos no primeiro semestre de 2022, o levantamento contou 108 óbitos. Nos 12 meses de 2021 o número de internações foi de 3.406, já o de óbitos, 174. Contando todas faixas etárias, 2022 registrou 20.728 internações e 9.693 mortes por câncer, ante 33.473 e 13.605, respectivamente, no último ano.
Mãe de Braian e professora, Neury de Oliveira, 37, relembra que demorou três meses desde os sintomas iniciais até o diagnóstico de câncer. “Os dentinhos dele começaram a ficar enferrujados, escuros. A dentista disse que era porque ele engolia o creme dental. Passou um tempo e ele começou a dar febre, eu levava ao médico e ele falava que era garganta inflamada. Só que a barriga dele começou a estufar. Fui até Irecê [cidade próxima a onde Neury vive]. Lá o médico descobriu que o rim dele estava todo afetado e já tinha passado para o fígado”, narra.
Com mais exames, a família descobriu que o pulmão também estava comprometido. Contudo, após série de tratamento intensivo, o quadro de Braian reduziu a ser de metástase no fígado e pulmão. A última quimioterapia será realizada na terça-feira (17) e a esperança de Neury é finalizar o tratamento e receber a constatação de cura.
“Ele sentia muito cansaço, não podia andar e emagreceu um pouquinho. [Hoje] ele está ótimo. Eu acredito em Deus que meu filho está curado”, anseia.
Diagnóstico precoce
A Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica alerta que o índice de cura pode chegar a 70% dos casos se houver diagnóstico precoce. Para isso, a preconização é que os pais ouçam as reclamações da criança e levem ao pediatra. O tratamento varia de acordo com o estágio da doença e área afetada.
Oncologista pediátrica, a médica Nubia Mendonça classifica que os principais tipos de câncer que acometem crianças são a leucemia, tumores do sistema nervoso central e tumores abdominais. Os sintomas variam conforme o tipo de câncer, no caso da leucemia, por exemplo, é comum anemia, sangramentos na pele ou nas mucosas, como nariz, boca, além de febre. Para tumores no sistema nervoso central o equilíbrio da criança é afetado, assim como há náuseas, vômito matinal e estrabismo.
“Cada tipo de tumor tem seus sintomas próprios, é importante que os pais valorizem a queixa da criança e levem sempre ao pediatra”, ressalta.
Quanto à causa, ela explica que há condições genéticas que predispõem o desenvolvimento de tumor, porém, na maioria dos casos a degeneração aparece espontaneamente, sem ligação a hábitos ou comportamento. Para a médica, os dados do DataSUS parecem ser maiores do que a realidade.
De todo modo, a doença pode aparecer para qualquer pessoa e é preciso ficar atento. Gabriely Ferreira, 10, era saudável e vivia uma vida comum até receber diagnóstico, em 2020, de câncer que atingiu o sistema nervoso central. Há dois anos em tratamento em Salvador, ela e a mãe, Sidelcina Ferreira, 42, se “mudaram” de São Desidério para a capital para continuar o tratamento no Hospital Aristides Maltez (HAM).
Quando perguntada como estava se sentindo, a pequena respondeu: “Tá mais ou menos. Eu só queria ser curada. Sinto falta da minha família, do meu pai. Eu fico triste porque a doutora não me libera”. O câncer expandiu e atingiu a veia do olho direito de Gabi, ela perdeu a visão do olho esquerdo, mas, segundo Sidelcina, já está recuperando o sentido. Ainda não há previsão para finalizar o tratamento da pequena, mas o apoio da família – tendo Gabi mais três irmãos – e do Grupo de Apoio à Criança com Câncer Bahia (GACC-BA), que ajuda nos custos, dá força para mãe e filha.
A reportagem do CORREIO solicitou dados de diagnóstico para a Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, Prefeitura de Itabuna, Hospital Santa Izabel e Hospital Martagão Gesteira. As entidades não retornaram até o fechamento da matéria.
O Grupo de Apoio à Criança com Câncer – Bahia (GACC-BA) e Núcleo de Apoio ao Combate do Câncer Infantil (Nacci) realizam, separadamente, ações de auxílio para crianças com câncer.
O GACC-BA é uma Associação Civil Sem Fins Lucrativos que atende cerca de 200 crianças/adolescentes de 0 a 19 anos por mês, além dos acompanhantes. Oferece gratuitamente aos pacientes e acompanhantes apoio financeiro no custeio de serviços de hospedagem, alimentação, transporte, medicamentos complementares, próteses e órteses, exames, além de assistências social, odontológica, fisioterapêutica, nutricional e psicológica. A instituição se mantém com doações que podem ser ofertadas pelo pix 71 3399-2020 ou doe@gaccbahia.org.br
Na mesma linha, o presidente do Núcleo, Clayton Costa, afirma que o atendimento é de 30 a 35 pacientes diários e 210 mensais. São mais de 300 refeições preparadas por dia, tendo café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde e janta, além de hospedagem e transporte para hospital.
O serviço é totalmente gratuito e válido para crianças e adolescentes com câncer na Bahia, mas a entidade tem passado por dificuldades financeiras. “Desde a pandemia as doações caíram. Às vezes atrasamos um pouco a luz, água”, conta o presidente. Doadores podem usar o PIX Presidência@NACCI.org.br ou 005324790001-07.
A reportagem do CORREIO solicitou números completos de 2022, mas a Sesab informou não ter dados consolidados de janeiro até dezembro.
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