Tabagismo é uma doença causada pela dependência química da nicotina e a OMS revela que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Há não muito tempo atrás, fumar era considerado legal. Para ser visto como alguém descolado, que acompanhava as tendências, bastava andar com um cigarro entre os dedos. Ao menos era isso que mostravam as propagandas que somente foram proibidas nos anos 2000. Hoje, o tabagismo é entendido como uma doença causada pela dependência química da nicotina e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano.
No entanto, largar o cigarro não é fácil – ainda que a maioria dos fumantes saiba dos malefícios dele. Por ser um vício, é preciso uma série de medidas para o combate ser eficaz. Abaixo listamos algumas.
Mude de perspectiva
“Para mim, o primeiro passo para você parar de fumar é ter certeza absoluta de que quer fazer isso. Quem mudou isso dentro de mim foi a chegada da minha primeira neta, Maria Clara”, conta Wal Marinho, de 58 anos, que fumava desde os 15. “Hoje, consigo ficar em qualquer lugar, mesmo com pessoas fumando. Mas isso não quer dizer que não dá vontade. Por isso, é legal ter certeza de que você quer parar.”
Desassocie o prazer
A motivação é determinante, porém é preciso criar condições para que as pessoas consigam fazer isso. “Esse é o ponto-chave”, explica Jaqueline Scholz, cardiologista, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (InCor) e criadora do Programa de Assistência ao Fumante. Em seu método, ela põe o paciente de “castigo” para fumar. Ou seja, o paciente pode consumir cigarros quando tiver vontade, mas sob algumas condições: ele deve estar sozinho, olhando para uma parede, sem celular, alimentos ou bebidas.
“É sobre dissociar todo o cenário que o indivíduo bota nesse contexto e transforma aquilo em algo mais agradável ainda. Isso o prepara para um segundo momento de abandonar o cigarro”, diz a médica.
Limpe o caminho
Há quem consiga parar de fumar de uma vez só e aqueles que fazem uma parada gradual, especialmente quem tem um alto grau de dependência. Independentemente da maneira escolhida, é interessante evitar os gatilhos para diminuir a chance de uma recaída.
Avise amigos e familiares, se livre dos maços e até considere largar por um tempo alimentos ou bebidas associadas ao cigarro, como o cafezinho ou a cerveja. “Essa rede de apoio é muito importante para quem quer parar. E, se você fala dessa sua vontade, todo mundo te ajuda. Eu até levo as pessoas a diminuírem o hábito de fumar, porque elas não fumam perto de mim”, relata ainda Wal.
“O nosso cérebro é composto por bilhões de células nervosas, como os neurônios que se comunicam entre si, por meio dos elementos químicos que o próprio cérebro produz (hormônios, neurotransmissores). A nicotina estimula a produção da dopamina, neurotransmissor que afeta o nosso estado de ânimo e proporciona sensação de prazer e bem-estar”, explica a psicóloga e neuropsicóloga Mariana Bertuani.
Assim, quando a pessoa para de fumar, sente abstinência e o cérebro, para compensar, produz noradrenalina, que aumenta a irritabilidade e nervosismo. Para diminuir essa crise, chicletes, adesivos de nicotina ou medicação antitabaco são muito indicadas para aliviar a vontade incontrolável de fumar. Para muitos, a primeira semana é a pior. Mas, de modo geral, essa fase dura de um mês e meio a três.
Cuide da saúde mental
Por mexer com o bem-estar, a nicotina pode exercer uma função antidepressiva ou desestressante. Assim, durante todo o processo de parar de fumar é indispensável a ajuda médica e psicoterapêutica. Outros sintomas da crise de abstinência são: tontura, alteração do sono, dificuldade de concentração e dor de cabeça que afetam a saúde mental. Além da ansiedade que pode ocasionar um aumento de peso e, consequentemente, afetar a autoestima.
É possível encontrar ajuda em grupos privados e públicos na internet, programas especializados e até mesmo no Sistema Único de Saúde (SUS), com o Programa Nacional de Controle do Tabagismo e o Programa Saúde da Família.
Celebre pequenas vitórias
Lembre-se: reduzir já é uma vitória. “A gente precisa entender que são anos de um comportamento que a pessoa vai ter de mudar, vai reinventar sua rotina e criar hábitos. É uma quebra muito forte e a gente tem de valorizar”, incentiva a psicóloga. Aproveite a economia que vem com o dinheiro antes gasto no cigarro e use-a como incentivo para não fumar de novo comprando algo novo, fazendo uma viagem ou indo jantar com alguém querido para comemorar.
De acordo com os especialistas, há mudanças significativas na respiração e pressão sanguínea assim que alguém decide parar. Dois dias depois, por exemplo, o olfato já percebe mais os cheiros e o paladar degusta melhor a comida. “Eu não sentia que minha casa cheirava a cigarro. É muito legal você se sentir cheirosa o dia todo e sentir os perfumes da casa também”, conclui Wal. Estadão Conteúdo
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