por Fernando Duarte/ BN
Foto: AP Photo/ Mark Lennihan
A estátua “Menina sem medo” já não está em frente ao Touro de Wall Street, mas a imagem da garota desafiando o símbolo do mercado financeiro ficou marcada no imaginário de muitos. A obra de Kristen Visbal foi removida, porém não deixou de ser um símbolo. Eis que, quase três anos depois, a jovem Greta Thunberg incorporou o espírito da obra de arte e desafiou homens poderosos ao redor do mundo. Entre eles, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que a chamou de “pirralha” horas antes da sueca receber o título de personalidade do ano da revista Time.
Greta está longe de ser um fantoche, apesar de muitas pessoas acreditarem que ela se presta a esse papel. A adolescente de 16 anos simboliza a chegada de um novo momento no mundo, quando vozes antes silenciosas reverberam mais do que aquelas autorizadas a falar. Foi uma ironia do destino a declaração de Bolsonaro e o título da Time.
Ao mesmo tempo em que Greta falava na COP25, criticando políticos e empresários que não protegem o meio ambiente, o Brasil assistia estarrecido ao discurso do ministro da Educação, Abraham Weintraub, reiterando que as universidades brasileiras são locais para plantação de maconha e que laboratórios seriam usados para produzir drogas sintéticas. E Weintraub insiste em colocar todas as instituições em um mesmo bojo, sem apresentar qualquer prova. Ele acredita ser uma Greta. Não chega a ser ela, nem o Touro, muito menos a “Menina sem medo”.
Pela lógica do ministro da Educação, o governo deve “desafiar o sistema” – apesar de criticar quem o faz. Talvez seja esse o argumento para manter Sérgio Camargo como presidente da Fundação Palmares. Depois de defender o fim do movimento negro e ser nomeado para presidir um órgão que tem por obrigação defender a cultura afro-brasileira, Camargo está com a indicação suspensa. Porém, por se tratar de uma prerrogativa do presidente Jair Bolsonaro, esse impedimento não deve durar. Outro momento em que o governo tenta ser a garota destemida e termina confirmando um vácuo cultural.
Ser contra o sistema era um discurso muito bom para a campanha. Agora, estando no poder, Bolsonaro e seus seguidores são esse sistema. Apesar de sugerirem estar tentando modificá-lo por dentro, o que tem acontecido é uma implosão desenfreada de todas as estruturas possíveis. Tanto que uma “pirralha” como Greta é capaz de abalar uma imagem já desestabilizada de um país como o Brasil. O caso de Weintraub e da Fundação Palmares são apenas dois exemplos dos diversos disponíveis para mostrar que estamos longe de ser tudo o que foi prometido. Tomara que a mudanças cheguem logo...
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (12) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM de Nazaré.
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