247 – Unanimidade entre seus pares da Comissão de Ética, que no voto aberto recomendaram a perda de seu mandato e, outra vez na Comissão de Constituição e Justiça, com todos os votos favoráveis à lisura do processo de sua cassação, o senador Demóstenes Torres chega nesta quarta-feira 11 ao fim da linha. A partir das dez horas da manhã, o plenário do Senado começa o julgamento final de sua cassação, pelo sistema do escrutíneo secreto. O que poderia ser para ele uma vantagem decisiva, não fará, segundo os prognósticos, grande diferença a seu favor. Afinal, mesmo indo votar longe dos olofotes da mídia, os senadores não obtiveram nenhum motivo concreto para poupar Demóstenes da cassação.
Em seu rosário de discursos ao plenário vazio, nos últimos dias, o senador cujo mandato sobe ao cadafalso da cassação não conseguiu sensibilizar ninguém com sua autocrítica tardia, baseada na garantia de que, agora, estaria mais maduro para exercer o mandato. No caso do senador por Goiás, além de um passado que o condena, pelas ligações provadas e comprovadas com o contraventor Carlinhos Cachoeira, há a permanente postura da dubiedade. Antes, em franca atuação favorável a atividades moralmente discutíveis como o jogo, ele se perfilava da tribuna como arauto da ética. Agora, quem pode acreditar que ele estaria mais maduro para, enfim, exercer com dignidade seu mandato?
Ainda que se lhe conceda o benefício da dúvida, o fato superveniente é o de que é tarde demais para absolver Demóstenes. O mal que ele fez aos costumes políticos, agindo de maneira ambivalente diante de seus eleitores, a quem deveria ter dedicado o mandato, e de seu chefe real, o hoje prisioneiro Cachoeira, é inaceitável para aos próprios senadores. Com seu jogo duplo, ele lançou mais manchas à já tisnada reputação pública do Senado, com suas regalias e mordomias criticadas em todo o País.
Tirar de Demóstenes o mandato que lhe foi conferido pelo povo, pelo motivo de traição aos compromissos assumidos publicamente em troca de acordos espúrios com uma organização crimimosa, será um bem que o Senado fará à própria instituição. Casa dos sábios na antiga Grécia, a chamada Câmara Alta saíra mais limpa do episódio ao cumprir sua obrigação de sintonia com o clamor popular. O exemplo da degola de Demóstenes, por outro lado, deverá servir para que futuros usurpadores de mandatos populares pensem bem mais que duas vezes antes de jogarem seus votos no lixo em troca de ligações perigosas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário