Em 1994, Itamar Franco teve seu poder ameaçado após aparecer ao lado da modelo Lilian Ramos sem calcinha, no Sambódromo, em 1994. A comunidade de inteligência do governo cogitou sua denúncia, de acordo com documentos secretos, tornados públicos nesta segunda-feira. Leia na matéria do Globo:
BRASÍLIA - Relatórios da antiga Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) — liberados nesta segunda-feira para pesquisa no Arquivo Nacional — mostram que a comunidade de inteligência do governo chegou a cogitar a renúncia do então presidente Itamar Franco logo após o episódio em que ele foi fotografado ao lado de uma modelo que estava sem calcinha. Itamar e Lilian Ramos estavam lado a lado no Sambódromo do Rio no carnaval de 1994.
Os documentos falam da repercussão negativa do episódio, classificado como “escândalo”, e um deles chega a citar até a possibilidade de o presidente renunciar a seu mandato. “Especulações a cerca de pretensa intenção de renúncia presidencial, perspectivas e suas implicações a curto prazo”, diz o título do documento produzido em 1994. No resumo do relatório, está escrito que a possibilidade foi cogitada em “decorrência do escândalo ocorrido no Sambódromo do Rio de Janeiro durante o carnaval”. O texto destaca que uma eventual renúncia traria consequências negativas para o plano econômico e para a revisão constitucional.
Outro relatório sobre o mesmo assunto, de 16 de fevereiro, diz que, a partir do acompanhamento da mídia, “o episódio repercutiu negativamente, atingindo a credibilidade do chefe do Executivo em vários setores da sociedade”. Itamar aparece, em documentos anteriores, como uma preocupação para o então presidente Fernando Collor de Mello, de quem era vice. É citada sua “aproximação com a esquerda” durante a crise envolvendo Collor que levou a seu impeachment. “Os partidos de oposição ao governo apoiam o vice Itamar Franco, dando início à discussão da transição”.
Os documento mostram ainda que os serviços de inteligência do governo acompanhavam com preocupação o risco de invasão da fazenda Córrego da Ponte, do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em Buritis (MG). Os sem-terra ocuparam a propriedade em março de 2002, mas já a partir de 1997 os órgãos de informação alertavam para esse risco. Ainda assim, a ocupação não foi evitada.
A SAE, antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), vinculou ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) à candidatura de Lula à Presidência da República em 1998. Num relatório de setembro desse ano, os órgãos de informação entendiam que a possível invasão poderia beneficiar o petista, que perdeu a disputa eleitoral para FH naquele ano.
“Desde julho de 1998 há indícios de que o MST planeja invadir a fazenda do presidente Fernando Henrique Cardoso. Lideranças da coordenação nacional do movimento estão tentando obter dados sobre o imóvel que possam auxiliar a campanha eleitoral de Lula”, diz o documento, que continua: “A propabilidade de invasão da fazenda é crescente, pois servirá para desviar a atenção sobre irregularidades denunciadas pela imprensa envolvendo Lula e seria uma forma de retaliação pela divulgação de que José Rainha Jr. teria sido cooptado pelo governo federal”, conclui o documento.
O MST era monitorado de perto pelos agentes de informação. Em 1990, um informe com o título de “Infiltração de organizações comunistas no MST, atividades do PCdoB no campo” fez menção ao caráter marxista do movimento e à existência de “elementos do MST com registros de participação de cursos em Cuba”. Outro relatório destacou que “o MST vem aprimorando o seu adestramento e ampliando a sua atuação, visando à criação de um movimento revolucionário”. No mesmo ano, os agentes produziram um informe intitulado “Estrutura e atividades do MST na periferia de São Paulo”.
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