> TABOCAS NOTICIAS : BRASIL: Greve em universidades federais completa 50 dias

segunda-feira, 9 de julho de 2012

BRASIL: Greve em universidades federais completa 50 dias

Em meio à pior greve dos últimos 10 anos, que se estende há mais de 50 dias, o sistema de ensino superior público é posto em xeque. Professores federais, servidores técnico-administrativos e estudantes – que aderiram ou não à greve – reivindicam melhores condições nos câmpus mantidos pelo governo federal. As maiores críticas são direcionadas ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), criado em 2007 pelo Ministério da Educação (MEC). Com o objetivo de aumentar a oferta de vagas, a preocupação com a qualidade ficou para trás. Tidas anteriormente como locais de prestígio, atualmente as 59 universidades federais apresentam dificuldades para manter o padrão de excelência com o qual ficaram conhecidas.

Laboratórios sem equipamentos, salas de aula lotadas, restaurantes que não conseguem atender a demanda, turmas de mais de 50 alunos de graduação de medicina com um cadáver na aula de anatomia, professores insatisfeitos e alunos também. Em 2011, menos da metade das 27 universidades com melhores resultados no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) eram públicas. O quadro da maioria das universidades federais hoje é crítico.

Para Sonia Lucio Rodrigues de Lima, professora de serviço social da Universidade Federal Fluminense (UFF), o Reuni é responsável pela atual precarização. “Cinco anos depois da criação do programa, a situação vem à tona. É evidente que a expansão de acesso que não foi acompanhada do aumento de professores e infraestrutura adequada traz sobrecarga.” Ela conta que antes do Reuni a UFF tinha 2 mil docentes para atender 22 mil alunos. Atualmente, o número de alunos dobrou e o de professores não. “Isso contribuiu de forma decisiva para a deflagração da greve.”

O Reuni resultou na interiorização dos câmpus das universidades federais, aumentando o número de municípios atendidos de 114 em 2003 para 237 até o final de 2011. Desde o início da expansão já foram criadas 14 universidades e mais de 100 câmpus. A previsão para 2014 é chegar a 63 unidades federais no país, em 272 municípios. O aumento das vagas de ingresso teve impacto no número total de matrículas em instituições federais, que passou de 638 mil para mais de 1 milhão. Foram criados 2.046 cursos. De acordo com o MEC, o investimento até o momento foi de R$ 8,4 bilhões.

ENTRAVES

O cenário da expansão está longe do ideal. A estudante do 5º semestre de engenharia ambiental Laila de Queiroz Barbosa faz parte da primeira turma do curso que vai se formar na Universidade de Brasília (UnB). “Somos ratinhos de laboratório. O professor, a grade, tudo ainda está sendo testado com a gente”, analisa a jovem de 21 anos. Para Laila, os maiores entraves encontram-se no programa de expansão do MEC. “Aumentaram o número de vagas, mas não a qualidade e a estrutura”, critica. Para a jovem, os professores não se preocupam com os alunos. “Eu já estudei em faculdade particular, onde a dedicação dos professores era muito maior. Na UnB, temos que correr atrás de tudo”, relata.

O professor de engenharia mecânica da UnB Rafael Gontijo garante que não convive com problemas de infraestrutura. Segundo ele, a maioria dos laboratórios de engenharia são bem equipados. No entanto, alerta, isso não é suficiente. Na sua opinião, falta investimento em pesquisa. Isso se reflete no interesse dos alunos, que não buscam oportunidades de bolsas de estudo para pesquisa, mestrado e doutorado. “O mercado de trabalho paga muito bem hoje em dia. Um iniciante chega às empresas ganhando mais de R$ 5 mil. Com as bolsas que temos, os bons alunos não querem ficar”, argumenta. De acordo com informações do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma bolsa de estudos para fazer doutorado é de R$ 2 mil, em média.

FRAGILIDADE


Os 46 hospitais universitários também são um retrato contundente da fragilidade do sistema de ensino superior público. Em 2012, o investimento do MEC será de R$ 4,8 milhões por meio do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf). Além das reformas em 32 unidades, outros seis serão construídos.

Nos próximos dias, o Comando Nacional de Greve divulgará um levantamento com a situação de cada instituição de ensino superior federal.

Correio Braziliense

Nenhum comentário:

Postar um comentário