Refeições servidas em sacos plásticos
Aliny Gama/Do UOL, em Maceió / Divulgação/ Sinpoljuspi
Internos da Penitenciária Mista de Parnaíba (a 354 km de Teresina), no
Piauí, estão se alimentando em sacos plásticos em vez de vasilhas ou pratos. Sem talheres, presos se alimentam com as mãos e mostram a precariedade da unidade prisional. A denúncia é do Sinpoljuspi (Sindicato dos Agentes Penitenciários), que registrou o problema em videos e fotos na semana passada.
Segundo o Sinpoljuspi, pelo menos mais da metade dos presos está recebendo as refeições em sacos plásticos. "Com o uso diário e o tempo, o plástico dessas vasilhas endurece e se quebra. A Sejus [Secretaria de Estado de Justiça] não está repondo e disponibiliza sacos plásticos para as refeições serem distribuídas", disse o presidente do sindicato, Vilobaldo Carvalho, destacando que não é somente os presos da triagem que recebem a alimentação em sacos plásticos. "Não vimos nenhum tipo de talher sendo distribuído, ou seja, os presos se alimentam com as próprias mão. É inaceitável, é um desrespeito ao ser humano", completou o diretor administrativo do sindicato, Kleiton Holanda.
As condições dos presídios brasileiros
15.out.2014 - Sujeira em celas da Casa de Detenção 2, parte do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão. Presos documentaram a falta de higiene no local e enviaram à reportagem do UOL. A Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária diz que limpezas são realizadas diariamente e que 'por conta do descontentamento com os novos procedimentos disciplinares adotados nas unidades prisionais do Maranhão, os detentos de algumas unidades estão jogando os restos das bandejas para fora das celas após as refeições e sujando propositalmente as unidades' Arquivo pessoal.
Superlotada
A penitenciária de Parnaíba tem lotação para 136 presos, mas está com 479, mais três vezes mais que a capacidade para custodiar presos. O sistema prisional do Piauí possui 3.500 presos.
A unidade prisional possui presos sentenciados em regime fechado, presos que conseguiram progressão de pena e estão no semiaberto e internos provisórios, aguardando julgamento. "Para piorar a situação, a unidade é mista. Tem homens e mulheres. Trabalhar numa unidade sem estrutura e com três regimes e para ambos os sexos num só local é uma irresponsabilidade e uma atitude descabida."
Segundo relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), elaborado em novembro de 2013, a falta de controle dos presos do regime semiaberto da penitenciária de Parnaíba foi apontada como principal problema da unidade prisional.
De acordo com o relatório, apenas 14% dos presos voltaram para dormir no presídio e esses internos trabalham em empregos informais – o que não justificaria a saída deles durante o dia.
Segundo o relatório, o controle dos presos em cumprimento de pena no regime semiaberto, em situação de trabalho externo em Parnaíba, é inexistente. "No horário de chegada à noite, durante entrevista individual, constatei que dos 89 relacionados pela unidade, apenas 13 retornaram e declararam que trabalham informalmente em locais sem cadastro na unidade ou no Poder Judiciário", apontou o juiz Marcelo Menezes Loureiro, que coordenou o Mutirão Carcerário do CNJ no Piauí em 2013.
O magistrado disse que os presos condenados e no regime semiaberto que não retornam à unidade prisional para pernoite com frequência, "passam o dia em suas próprias casas e não se apresentam a unidade para recolhimento aos finais de semana."
Condições insalubres
O sindicato reclama da falta de condições de trabalho dos agentes penitenciários e destaca que os presos de Parnaíba estão em condições insalubres, em celas úmidas, sem ventilação e o prédio, por ser de tijolos, a salina está "desmanchando" as paredes.
"A penitenciária de Parnaíba funciona em um prédio adaptado, onde era o antigo mercado da cidade, sem condições de trabalho para os agentes manterem presos em segurança. As falhas na adaptação do prédio facilitam fugas, que são constantes", disse Carvalho.
A administração fica muito próxima às celas e os pavilhões são um labirinto. "O presídio também têm muitos problemas recorrentes nas instalações elétricas e hidráulicas, além da falta de estrutura. Não bastava ali de uma reforma, mas sim de um presídio novo", destacou Carvalho.
Segundo relatório do CNJ, a penitenciária não possui aparelhos de raio-x e as revistas das visitas ocorrem "com a retirada de vestes e a prática de agachamento para fiscalização da entrada".
O CNJ detalhou que os profissionais que trabalham na penitenciária de Parnaíba precisam de mais aparato para segurança, pois não existem coletes balísticos, radiocomunicadores, espargidores de gás de pimenta, escopetas com balas de borracha, capacetes e escudos antitumulto.
Resposta
O superintendente de administração penitenciária do Piauí, Wellington Rodrigues, informou que o Estado está adquirindo um lote de 2.500 vasilhas para suprir a necessidade dos internos do sistema prisional, mas que "está com dificuldades na aquisição por conta da quantidade que está indisponível no mercado".