Do UOL, em São Paulo
O presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu Guillo, se referiu ao uso da segunda cota do volume morto (água que fica no fundo das represas) do sistema Cantareira como a "pré-tragédia". Ele participou na manhã desta terça-feira (21) de um debate na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) sobre a crise da falta de água no Estado.
"[A Sabesp] quer retirar o segundo volume morto, que é a pré-tragédia. Mas não há alternativa para São Paulo que não seja chover ou tirar água do volume morto do Cantareira", afirmou.
Na última sexta-feira (17), a ANA concordou com a proposta da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) de retirar uma segunda parte da reserva técnica do sistema, com 106 bilhões de litros de água. A companhia precisa ainda do aval do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) para começar a usar essa água.
A primeira cota do volume morto começou a ser captada pela Sabesp em maio deste ano, quando o Cantareira estava em 8,2%. Com a reserva, o nível de água disponível aumentou para 26,7%. Hoje, o sistema, que abastece um terço da população da Grande São Paulo (6,5 milhões de pessoas), está em 3,3% de sua capacidade de armazenamento. Esse percentual é o que resta da primeira parte do volume morto.
O debate na Alesp foi mediado e organizado pelo deputado estadual Adriano Diogo (PT), que é da bancada de oposição ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Nenhum membro da bancada governista fez parte da mesa. A ANA é uma autarquia federal reguladora dos recursos hídricos. Seu presidente foi indicado pela presidente Dilma Rousseff. A reportagem do UOL procurou a Sabesp, mas não teve resposta até o momento.
Terceiro volume morto
Andreu Guillo afirmou que o Cantareira ainda tem uma terceira cota do volume morto, que pode ser captada. Mas, segundo ele, isto seria uma tragédia.
O presidente da ANA explicou que, em números redondos, o Cantareira tem capacidade de armazenar um trilhão de litros de água. Abaixo do nível de captação, existia cerca de 500 bilhões de litros. "Uma parte já foi tirada, de 182 bilhões, e agora o governo deseja tirar mais 106 bilhões de água. Em tese, vai sobrar 200 bilhões, uma terceira parte do volume morto", detalhou.
"Esse volume três pode ser tirado, mas é o ralo do reservatório, o lodo. Se a crise se acentuar, não haveria alternativa do que usar o lodo e aí sim haveria problema", disse.
Crise da água no debate presidencial
A crise de abastecimento de água que afeta São Paulo virou motivo para troca de acusações entre presidenciáveis no segundo turno da campanha.
Na semana passada, a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), alfinetou o rival Aécio Neves (PSDB), levando a questão para o debate na TV. Ela também passou a explorar o tema em seu programa eleitoral.
Ontem (20), Aécio sugeriu que o governo federal também tem culpa em relação à crise. Ele afirmou que faltou parceria do governo federal com o governo paulista. No mesmo dia, Dilma disse que seu governo atendeu a todos os pedidos de Alckmin.
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