Por: Humberto Pinho da Silva
Naquele tempo disse Jesus: "Não há profeta sem estima, senão na sua pátria e na sua casa – Mt1:57. Provérbio, provavelmente, corrente em Israel, no Seu tempo, que recorda o fenómeno psicológico, e sempre actual, que consiste admirar o que é dos outros, em detrimento do que é nosso.
Jesus ensinava na sinagoga da Sua terra. Os concidadãos que conheciam sua ascendência humilde, comentavam varados, entre si: " Não é filho do carpinteiro? Não se chama Sua Mãe Maria; e Seus parentes não estão entre nós ?" - Mt15:55.
Os judeus – incluindo muitos rabis, – admiravam-se, igualmente, que não tendo estudado, conhecesse profundamente as Escrituras.
Se essa ocorrência tivesse acontecido nos nossos dias, diríamos, certamente: Como pode falar com tanta autoridade senão cursou a Universidade?!
Seus patrícios conheciam perfeitamente Sua mãe e parentes próximos, que eram simples boçais, quase todos ignorantes, e custava-lhes acreditar no que Ele dizia; reconheciam, porem, Seu talento e sabedoria; porque lhes falava com autoridade.
No tempo que correm, diríamos desdenhosamente: Não passa de labrosta ou caipira; filho de rústicos ignaros, e ficaríamos deveras perplexos; " De onde Lhe vem tudo isto?!"
No início deste século, entrevistei figuras públicas para jornal local. Entre eles, talentoso deputado.
Após ter desligado, a seu pedido o gravador, confidenciou-me, quase à puridade:
" Quando cheguei ao parlamento senti-me descriminado pelo facto de não possuir licenciatura. Pensavam – pelo menos assim julgava, – até os da minha bancada: " Como pode opinar, com acerto, senão andou na Universidade?!"
Devo esclarecer, em abono da verdade, que o jovem deputado, mais tarde – para ser respeitado, – cursou certa Faculdade.
Jesus era pobre e não frequentara nenhuma escola rabina. Nasceu no seio de família modesta, numa cidade insignificante.
Não disse Natanoel: " De Nazaré pode sair alguma coisa boa? – Jo1:46.
Agora muitos diriam: Do interior, de um camponês, de um saloio. boia-fria ou simples pedreiro, pode sair alguma coisa boa?
Daqui se conclui: quem não possuir fartos bens, curso universitário ou sobrenome importante, será sempre cidadão de segunda, como diziam certos portugueses, despeitados, que viviam nas Províncias Ultramarinas.
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