Foto: Henrique Almeida/Divulgação UFSC
A Universidade Federal de Santa Catarina formou a sua primeira turma composta só por índios.
O grupo se graduou na semana passada em Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica. Com informações da UFSC
São 85 alunos das etnias guarani, kaingang e laklãnõ/xokleng, provenientes do Mato Grosso do Sul (MS), Espírito Santo (ES), Rio de Janeiro (RJ), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS).
O curso teve duração de quatro anos, entre aulas na universidade e atividades desenvolvidas nas aldeias.
Os estudantes receberam formação para lecionar nas áreas de infância, linguagens, humanidades e conhecimento ambiental indígena.
O juramento na colação de grau falou de cultura, liberdade, autonomia, luta pela terra, autodeterminação, alegria e crianças sadias.
O discurso dos oradores ressaltou a preocupação com o futuro, a importância das tradições culturais e da demarcação de território indígena:
"Não importa o povo, ou etnia a que pertencemos. Somos todos irmãos, filhos desta terra", lembraram.
Emoção
O xokleng Woie Patté, de José Boiteux, era um dos mais animados, tanto na hora de subir ao palco para tomar o lugar na cerimônia quanto na hora de receber o diploma:
"É uma noite de muita alegria, estou emocionado mesmo", diz.
Ele trabalhava como agente de saúde e resolveu aproveitar a oportunidade de fazer uma graduação e iniciar uma carreira acadêmica. Agora, os planos incluem mestrado e doutorado.
Durante a cerimônia, dois colegas foram lembrados: Natalino e Eduardo, que são parte da turma, mas faleceram antes de terminar o curso.
A paraninfa Maria Dorothea Post Darella prestou uma homenagem especial à formanda Maria Cecilia Barbosa, que se tornou bisavó enquanto fazia o curso.
"Foi possível experimentar uma troca, com conhecimentos tradicionais sendo trazidos para o seio da academia", declarou Flácio Chiarelli Vicente de Azevedo, presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), apoiadora do curso, em entrevista à TV Brasil.
"Eu sei que isso vai fazer uma diferença para nós. Tenho que espalhar esse conhecimento, temos que mostrar as coisas que aprendemos e valorizar o que ensinamos. A experiência de convivência foi muito importante; um dos motivos para os não índios não respeitarem nossa cultura como deveriam é porque não a conhecem", disse o guarani Adelino Gonçalves, morador de Biguaçu, em SC, ao completar o curso, após quase haver desistido.
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