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segunda-feira, 14 de julho de 2014

Preço baixo ameaça produção nacional de borracha

A estratégia de alguns países asiáticos de aumentar a plantação de seringueiras acima do previsto, aliada à lenta recuperação das economias americanas e europeias, pôs a indústria brasileira de borracha (produção e beneficiamento) sob forte risco de colapso. Com uma superoferta do produto no mercado mundial - só em 2013, sobraram 700 toneladas - , o preço internacional despencou 42%.

Segundo a Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Abrabor), além de não remunerar a atividade econômica, esse valor tem desestimulado o trabalhador rural. Para evitar que os problemas se propaguem e interrompam esse novo ciclo da borracha no Brasil, a entidade se reúne hoje com o ministro da Agricultura Neri Gueller para pedir apoio do governo para o setor.

Uma das propostas a ser apresentada seria adotar medidas para equalizar o preço interno, seja por meio de aumento de alíquota de importação, desoneração tributária da indústria de pneus ou taxa de equalização. "Quem definirá a melhor saída é o governo", diz o diretor executivo da Abrabor, Fernando do Val Guerra. Segundo ele, considerando o faturamento da indústria de pneus em torno de R$ 10,9 bilhões e IPI de R$ 1,5 bilhão, a redução da alíquota seria suficiente para manter a sustentabilidade do setor produtivo da borracha natural.

Hoje o quilo do coágulo retirado das árvores está entre R$ 1,50 e R$ 1,69, variando conforme o custo do frete. Depois de beneficiado, o valor sobe para R$ 4,43, segundo os dados da Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor). Os produtores querem chegar a R$ 6,3 o quilo, valor já praticado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em seus leilões.

As propostas que serão apresentadas ao Ministério da Agricultura hoje foram discutidas por todas as associações que integram a Abrabor na quinta-feira, em São Paulo. "Não temos nenhuma política para o setor de borracha. Corremos o risco de um colapso", afirma Guerra. Segundo ele, a heveicultura - como é chamado o cultivo de seringueiras - tem de acertar suas estruturas para manter crescimento saudável e sustentável.

Importador

Hoje, o País produz um terço de tudo que consome. O resto é importado de países como Tailândia, Indonésia, Malásia e Vietnã, os maiores produtores mundiais. Guerra diz que o setor tem potencial para atender 50% da demanda nacional em sete anos e 100%, em 25 anos. Para isso, no entanto, é preciso adotar medidas de incentivo que permitam esse crescimento. Caso contrário, em pouco tempo, 100% do consumo terá de ser importado.

"Ter políticas de fomento da heveicultura e não ter um mecanismo de equalização em momentos de turbulência é um contrassenso. Ainda está em tempo, a próxima safra deve ser preparada até o fim do mês de agosto para iniciar em setembro."

Segundo o pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Paulo de Souza Gonçalves, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o baixo preço provocado pela superoferta do mercado mundial já tem reflexos nas contas de várias usinas do setor, que estão no vermelho. Ele lamenta a situação do País que saiu de exportador a importador. "A borracha é do Brasil. Em 1876 foi levada para o Sudeste Asiático e lá modificada."

Parte importante da história econômica e social do País, a borracha entrou em declínio no início do século passado com a concorrência estrangeira. Teve uma reação em meados do século, mas por pouco tempo.

A heveicultura atual teve início nos anos 80, com mudas de seringueiras vindas da Ásia e que foram retiradas daqui, diz Gonçalves. "Hoje, lamentavelmente a produção do Brasil corresponde a 1,45% da produção mundial. Tailândia e Indonésia, sozinhas, respondem por 60% de toda produção."

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