Um amigo na França enviou-me dois álbuns repletos de fotografias de objetos ditos artísticos, postos à venda na conhecida casa de leilões Osenat, situada nas proximidades do Castelo de Fontainebleau, a 60 km de Paris.
Esses álbuns, totalizando mais de 60 páginas de tamanho avantajado (42x30 cm), comemoram “O Espírito do século XX”, ou seja, a intenção dos autores de apresentar aquilo que, segundo eles, de melhor se produziu em matéria de arte nos anos 1900.
Porém, folheando o material, fica-se horrorizado com a mediocridade, a feiura e o caráter disforme e mesmo grotesco dos objetos apresentados — mesas, cadeiras, lampadários, esculturas, quadros — tudo segundo os padrões da chamada “arte moderna”. Não posso deixar de lamentar a enorme decadência artística que se espelha nesses objetos, entretanto expostos como símbolos artísticos de um século. Naturalmente há exceções, mas são poucas.
Não podendo reproduzir aqui nem mesmo um pequeno número dessas aberrações artísticas, limito-me a estampar a que figura na capa de um desses álbuns, portanto com grande destaque.
O leitor é capaz de interpretar o que significa essa figura? Certamente não. Vou então ajudá-lo, com os dados fornecidos pela própria Osenat. Trata-se de madeira policromada, esculpida em 1947 por Joseph Savina, de acordo com o desenho fornecido pelo arquiteto Le Corbusier. O título da escultura é Ozon, nome da cidade dos Pirineus onde viveu esse arquiteto.
Parece impossível associar esse monstrengo a qualquer forma encontrada na natureza ou retamente idealizada pela imaginação humana. A sensação que causa é de profundo desagrado, como se um mistério mau se escondesse por detrás dessa cacofonia visual. Diante dele, a primeira reação é de fugir, para livrar-se de suas más influências.
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Compare-se, de outro lado, a beleza arquitetônica da Prefeitura de Praga, na República Checa. Agrada profundamente a vista. A elevação e a sublimidade do gótico são associadas a uma leveza e a uma graça toda peculiar. Tem-se vontade de ficar olhando e contemplando indefinidamente, para ver se algo dessa harmonia penetra em nós.
Construída na primeira metade do século XIV, espelha bem o espírito da época medieval depois das invasões bárbaras, quando o risonho e atraente das construções ainda coexistia com a austeridade e seriedade das épocas anteriores, numa síntese admirável.
Fruto do espírito católico, é bem o contrário do neopaganismo que se espelha na primeira figura.
(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
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