Gazeta Press
Com salários atrasados, jogadores do Botafogo voltaram a protestar antes de clássico
Bebeto de Freitas, ex-presidente do Botafogo, e Maurício Assumpção, o atual, travaram um duro e agressivo debate por meio da imprensa nas últimas semanas, por conta da enorme dívida que o clube carrega, em uma das situações mais complicadas desde a fundação. Apesar da troca de acusações, uma coisa pode ser constatada pelo balanço dos últimos anos: os dois dirigentes deram prejuízo para os cofres de General Severiano.
Desde que Bebeto passou pelo comando do time, entre 2003 e 2008, e depois com a chegada de Maurício, de 2009 até agora, o acúmulo de déficits passa de R$ 360 milhões. Em todas essas temporadas o clube ficou no vermelho. Segundo especialistas em gestão desportiva, o rombo financeiro do alvinegro carioca vem de décadas atrás, bem como acontece em praticamente todos os brasileiros, e ambas as administrações gastaram mais do que poderiam.
"O clube tem um passivo absurdo desde muito antes desta gestão. Os dois gastaram muito e deixaram o clube no prejuízo. É difícil falar em melhor ou pior, mas o fato é que acabaram no negativo. Mas uma coisa me chamou muito a atenção no ano passado: mesmo com todos os problemas, o custo do futebol foi absurdo. Foi o que mais cresceu, percentualmente falando. Ele gastou muito, mesmo com problema fiscal monstruoso. E acabou com o maior déficit do futebol brasileiro de 2013: R$ 80 milhões de prejuízo", afirmou Amir Somoggi, consultor de gestão desportiva.
"E as receitas aumentaram pouco. O investimento não voltou para o clube. Claro que a gente tem de considerar que eles ficaram sem o Engenhão. Isso pesou muito. Mas foi irresponsável", completou.
Segundo levantamentos do consultor, que estão ao final da matéria, os déficits estão se acumulando desde o início da gestão de Bebeto, que chegou quando o passivo já existia. Ele lembra, no entanto, que os números podem ter outros significados além do que estão mostrando.
"É importante dizer que nem sempre um número significa apenas aquilo que estão mostrando. O que quero dizer é que o déficit de um ano pode ter coisas das gestões passadas. E um número mais positivo pode estar deixando problemas para as administrações futuras. Por exemplo, quando vem uma Timemania, se refinancia as dívidas e pode se acumular para outro presidente", explicou.
Para o coordenador de cursos da Fia e professor do curso de gestão da Federação Paulista de Futebol, Michel Mattar, o fato de não haver cobranças contribui para administrações irresponsáveis.
"Um acusando o outro não vai levar a lugar nenhum. O esforço do Mauricio Assumpção é de diminuir o prejuízo dele deste ano. Quando ele assumiu já tinha uma dívida incalculável. Ele tem de responder por sua gestão, claro. A dívida é uma bola de neve. A questão do Botafogo é simples: todos fizeram uma gestão irresponsável. Todos. Ninguém cobra responsabilidade, por isso sempre foi assim. Os torcedores também não cobram", afirmou o especialista.
O professor da GV e também especialista em gestão de clubes Pedro Trengrouse, no entanto, tem outra opinião sobre o assunto.
"Por incrível que pareça, o sistema de organização impede que o dirigente possa administrar bem. Será que o problema é o dirigente? Ou o problema é o modelo? É um absurdo imaginar que todos sejam incompetentes. Muita gente boa passou pelos clubes. Será que só no clube eles são ruins? É preciso fazer uma reflexão mais profunda sobre isso", defendeu.
"Não estou dizendo que necessariamente os resultados foram bons. Mas na época do Bebeto, por exemplo, ele conseguiu fazer uma baita reformulação na sede do Botafogo. O Mauricio também não vai mal. O Botafogo foi um time competitivo mesmo com todos os problemas. Trouxe o Seedorf, o Loco Abreu. Ambos, com o que tinham para administrar, fizeram boas gestões, na minha opinião. O dirigente não pode fazer milagre", completou. http://esportes.br.msn.com
Resultados do Botafogo, nos últimos dez anos, segundo estudo de Amir Somoggi.
2003: - R$ 2 milhões
2004: - R$ 8 milhões
2005: - R$ 4 milhões
2006: - R$ 6 milhões
2007: - R$ 4 milhões
2008: - R$ 10 milhões
2009: - R$ 11 milhões
2010: - R$ 29 milhões
2011: - R$ 167 milhões
2012: - R$ 49,3 milhões
2013: - R$ 80,3 milhões
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