247 – Falta alguém em Nuremberg. Ou melhor: falta alguém no julgamento que será iniciado no próximo dia 2 de agosto, no Supremo Tribunal Federal. E este alguém é o ex-presidente Lula.
A tese é do jornalista Ricardo Noblat, que, nesta segunda-feira, publicou uma coluna intitulada “Falta alguém”, que vai dar o que falar. Noblat repercute matéria da revista Veja deste fim de semana, que relata uma suposta ameaça de Marcos Valério de Souza, pivô do escândalo, dirigida ao ex-presidente Lula.
Segundo o texto, assinado por Rodrigo Rangel na revista, Valério estaria cogitando revelar os encontros que teve com o ex-presidente – coisa que Lula sempre negou. Ainda de acordo com a reportagem, o personagem escalado para conter o chantagista seria Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae e homem de confiança de Lula.
Eis, abaixo, a tese de Noblat:
“Ponham-se no lugar do ex-publicitário mineiro. Era rico, riquíssimo, antes de se meter com o PT de Delúbio Soares, Genoíno e José Dirceu. Tinhas duas agências de propaganda. E inventara uma forma de lavar dinheiro por meio de bancos para engordar o caixa 2 de políticos às vésperas de eleições. Eduardo Azeredo, do PSDB, foi um deles.
Procurado para fazer pelo PT o que fizera por Azeredo, imaginou ter tirado a sorte grande (...) De repente todas as portas se abriram para Valério (...) Teria dado certo – não fosse o gesto tresloucado de Roberto Jefferson, presidente do PTB, que por pouco não pôs o governo a pique. Em um sábado de junho de 2005, depois de tomar uns goles a mais na Granja do Torto, Lula falou em renunciar ao mandato. Ficara sabendo que Valério admitira envolvê-lo no escândalo.
José Dirceu, então chefe da Casa Civil da presidência da República, foi chamado às pressas em São Paulo para dar um jeito em Valério, deu sem fazer barulho. Naquele dia, postei em meu blog que Lula falara em renúncia – embora eu não soubesse por quê.”
Noblat relata ainda que, em 2006, Valério usou um outro interlocutor para chegar ao ex-presidente e reclamar que teria quebrado, estava endividado e com os bens bloqueados. E para dizer que, se não houvesse acordo, faria delação premiada.
O jornalista descreve até a cena do encontro. Do terceiro andar do Palácio do Planalto, Lula vira-se para uma das janelas, observa o movimento e pergunta ao interlocutor: “Você falou sobre isso com Okamotto?”. Estava, assim, nomeado, segundo Noblat, o interlocutor que iria acalmar Marcos Valério durante esses anos todos.
Por isso mesmo, segundo o colunista do Globo, “falta alguém em Nuremberg”. No mensalão, de acordo com Noblat, “desviou-se dinheiro público – e não foi pouco”. “Pagou-se para que deputados votassem com o governo. Comprou-se o apoio de partidos”, afirma.
E ele conclui seu texto afirmando que nada será capaz de reparar o mal produzido pelos que chegaram ao poder travestidos de legítimos hierarcas da decência.
Noblat quer Lula no mensalão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário