por Daniel Bramatti e Cecília do Lago | Estadão Conteúdo
Os discursos moralistas cederam lugar ao pragmatismo na análise da denúncia contra o presidente Michel Temer. Ao votar, a maioria dos deputados favoráveis ao peemedebista na última quarta-feira apresentou argumentos econômicos e políticos - notadamente a oposição ao PT. O tema "corrupção" foi ignorado por quase todos. Análise feita pelo Estadão Dados nos discursos dos 263 parlamentares que se alinharam ao Palácio do Planalto revela que a economia foi a justificativa preponderante. Cerca de um terço dos favoráveis a Temer citaram termos como "estabilidade" (17%), "emprego" (8%), "reformas" (7%) ou "retomada" (4%). O PT foi mencionado em 13% dos discursos. A corrupção, em apenas 2%. O tom das manifestações foi muito diferente do apresentado na votação da abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, no ano passado. Na ocasião, parcela significativa dos deputados aproveitou o momento ao microfone para dedicar o voto a familiares, a eleitores de suas regiões e ao "futuro do Brasil". Na comparação dos 1.005 discursos feitos nas duas votações, as citações a "família" caíram 95%, de 128 na época de Dilma para apenas 6 no caso de Temer. As menções ao futuro caíram 88%, de 43 para 5. Já as referências a "estabilidade" cresceram de zero para 49. O pedido de impeachment de Dilma se baseou nas chamadas "pedaladas fiscais" - prática do governo de atrasar repasses de recursos para bancos e autarquias, o que melhorava artificialmente os resultados das contas públicas. Já Temer foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de ter recebido, por intermédio de seu assessor Rodrigo Loures, "vantagem indevida de R$ 500 mil ofertada por Joesley Mendonça Batista", do grupo JBS.