Agassiz Almeida: Maria do Carmo Aquino, a intimorata. Veio para a vida e a viveu sem se curvar ao deus dólar.
Maria do Carmo Aquino veio para a vida e a viveu sem se curvar ao deus dólar e dela partiu sem pedir licença ao Deus das religiões. Abominava os cretinos que se transvestiam de democratas para melhor sangrar os povos.
Não conseguindo assistir o nosso país vencer uma estrutura sociopolítica de séculos de espoliação, recolheu-se à ilha de Itamaracá, PE e de lá bradava: “Não serei conivente com a patifaria de um capitalismo cruel que faz dos povos rebanhos humanos e do capital um mito”. Assim, aquela valente se indignou até o último suspiro de vida.
No dia anterior ao seu falecimento, ouço a sua palavra por telefone: “Agassiz, fui convidada para falar sobre o teu livro ‘A ditadura dos generais’, em Recife. Que obra esta tua! É um anátema eterno contra os tiranos”.
Esta grande indignada irrompeu para a vida descendente de uma cepa de indomáveis resistentes, da qual se irradiou têmpera de fortes personificados em Osmar de Aquino e Laura Aquino.
Carregava-se da avidez de um ideal por justiça, da dissecação dos fatos e uma força voluntariosa de lutar. No seu rosto, liam-se os sentimentos de irresignação contra as atrocidades sociais. “Que crueldade os camponeses carregarem cinco séculos de latifúndio”.
Ao olhar milhares de camponeses num encontro em Sapé, PB, vergastava: “Não se pode conviver com uma sociedade na qual os trabalhadores do campo são relegados a párias”.
Trazia consigo uma força ingente em defesa dos injustiçados, e desta forma ela soube compreender a natureza humana: Fez-se forte e não autoritária; enérgica sem ser prepotente.