Uma aparente combinação de esquizofrenia, marginalização e medo de um cartel de drogas fez com que duas irmãs vivessem trancadas durante 30 anos em um quarto de sua casa, no Estado de Chihuahaua, no México, de onde foram resgatadas recentemente pelas autoridades com graves problemas físicos e mentais.
O inspetor-geral da Comissão Estadual de Direitos Humanos (CEDH) de Chihuahua na zona de Parral, Amin Corral Shaar, informou nesta sexta-feira (2) à "Agência Efe" que as duas mulheres são Francisca Valles Campos, de 35 anos, e sua irmã Luz Ofelia, de 38.
Ambas foram resgatadas no dia 30 de dezembro de um quarto de sua casa na comunidade de Bufalo, após o prefeito de Allende, Gilberto García Mendoza, denunciar a situação.
Corral percorreu os 100 quilômetros que separam Parral de Bufalo para averiguar o caso e encontrou um surpreendente panorama no domicílio, situado no centro desse povoado rural e isolado, onde as vítimas viviam enclausuradas,
Na casa moram o pai das duas mulheres, de "idade avançada e que não trabalha", a mãe, três filhos homens, além das duas filhas.
"Aparentemente, toda a família sofre de problemas mentais e colaborava com o aprisionamento. O único que trabalha é o irmão mais velho, que cria porcos", relatou Corral.
Ao chegar ao local, as autoridades tiveram que forçar a porta do quarto no qual as vítimas se escondiam, supostamente "por vontade própria", segundo a CEDH.
"O quarto cheirava mal porque elas não tomavam banho há anos" e as mulheres estavam cobertas "somente com uma manta", disse.
As irmãs tinham diversas infecções e uma delas precisou ser levada para uma clínica em Allende por ulcerações no corpo.
"É o caso mais estranho com o qual nos deparamos em muito tempo, nunca tinha visto algo assim", acrescentou Corral.
O inspetor-geral da CEDH explicou que no momento da ação, que contou com a participação da polícia, estavam presentes parentes e moradores, que se negaram a falar sobre o caso.
No remoto local onde a casa se localiza, "prevalece a ignorância" e há três décadas se alastrou "um rumor" de que narcotraficantes "iriam roubar crianças e meninas".
O temor surgiu após ser apreendido em Bufalo um dos maiores carregamentos de maconha da história do México, com cerca de 10 mil toneladas da droga, em uma operação relacionada a um dos casos mais famosos da luta contra o crime no país, o do assassinato do agente americano Enrique Camarena.
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