Uma discussão recente, sobre o Homeschooling - que pode ser definido simplificadamente como um projeto de educação domiciliar - suscita algumas questões antigas, porém muito atuais. Sabemos sobre a importância da escola e seu lugar fundamental na formação das pessoas. Entendemos esse espaço como imprescindível. Indiscutivelmente percebemos seu diferencial. Mas, afinal, pra que serve a escola?
Sim. Já parto da premissa de que um ambiente de tamanho destaque possui uma serventia, uma finalidade. Essa costuma ser uma das métricas do sistema em que vivemos. E que aqui cabe como parâmetro. Quando colocamos crianças para passar a maior parte de seu tempo nas escolas, de certo, as expectativas não se restringem ao âmbito cognitivo ou intelectual. Ou, pelo menos, não deveria ser assim.
A escola é nosso primeiro espaço de socialização para além de nossa família. É nela que vamos iniciar nossa compreensão real de que existem pessoas além de nós. E que esses outros têm enorme importância em nossa formação. No espaço escolar, aprendemos a dividir, a cooperar, a trocar. Nele, desde muito cedo, recebemos ensinamentos sobre empatia, afinidade e afeto. Descobrimos como enxergar, sentir e tocar pessoas.
Possivelmente isso não faz parte do currículo escolar, tal como a biologia, a química e a matemática - que por sinal, reforço aqui serem capitais. Contudo, são cada mais imprescindíveis em nosso dia a dia. Nesse mesmo momento, onde polaridades cada vez mais se acentuam, onde o discurso de ódio impera soberano, onde a impaciência e a intolerância ganham espaço. Nesse contexto, escola como espaço de interação é basal.
Homeschooling, em si, não é prejudicial ou benéfico. Caso os pais sejam adeptos dele em paralelo às atividades escolares, acredito que as crianças serão duplamente beneficiadas. O risco que corremos é de cairmos no reducionismo de acreditar que ao reproduzir conteúdos programáticos estamos dando conta de toda a complexa área do desenvolvimento - relacional, social, afetivo, intelectual e cognitivo - tal como realmente acontece no espaço escolar. E isso, claramente, não é real.
Bruna Richter
Psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Também é formada em Artes Cênicas pelo SATED do Rio Janeiro, o que a ajudou a desenvolver o Grupo Grão, projeto voluntário que atende pessoas socialmente vulneráveis, onde através de eventos lúdicos, busca-se a livre expressão de sentimentos por meio da arte.
Seus livros infantis “A noite de Nina – Sobre a solidão”, “A música de dentro – Sobre a tristeza” e “A dúvida de Luca – Sobre o medo” fazem parte de uma trilogia que versa sobre sentimentos por vezes vistos como negativos, mas que trazem algo positivo se olharmos para eles mais atentamente. Estes dois últimos inclusive entraram para a lista paradidática de uma tradicional escola montessoriana na cidade do Rio de Janeiro.
A ideia de escrever sobre o tema surgiu, após o nascimento de seu filho, como uma tentativa de facilitar o diálogo sobre emoções que frequentemente temos dificuldades para nomear, buscando assim acolher as descobertas que a criança experimenta psiquicamente.
A paixão pelo universo dos sentimentos infantis contribuiu também para a criação do “De Carona no Corona”, folheto educativo para crianças, relacionado à pandemia.
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