por Ailma Teixeira**Imagem: TV Senado
O terceiro dia de oitivas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia já começou com os ânimos exaltados no Senado, nesta quinta-feira (5). Assim como se irritou com o ex-ministro Nelson Teich (veja aqui), o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), também demonstrou incômodo com a postura do atual ministro Marcelo Queiroga.
Médico cardiologista, Queiroga está à frente do Ministério da Saúde há cerca de 45 dias. Como o general Eduardo Pazuello, seu antecessor, teve o depoimento adiado por alegar que esteve em contato com duas pessoas contaminadas com Covid-19 (veja aqui), o atual chefe da pasta é o terceiro a depor.
Ao ser questionado sobre a forma como encontrou o ministério quando o assumiu e se considerava que os processos funcionavam adequadamente, o ministro hesitou. "Senador, de maneira objetiva, eu sou aqui testemunha e posso testemunhar pelos fatos que presenciei. (...) Existem instâncias próprias pra fazer esse tipo de avaliação", afirmou.
Essa resposta logo gerou protestos por parte de Renan, que insistiu na questão, com apoio do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM). "Não tem esse negócio de dizer, de jogar pra terceiros", frisou Aziz, pontuando que Queiroga está ali na condição testemunha e tem obrigação de responder aos questionamentos feitos pelos senadores.
Mesmo com essa repreensão, a discussão não avançou muito. Queiroga disse apenas que encontrou uma situação de logística e distribuição de vacinas e insumos satisfatória.
Com isso, o relator questionou quais medidas adotadas no tempo em que ele está no posto de ministro não faziam parte da condução da pandemia antes de sua posse e recebeu mais hesitação. Queiroga repete que só pode falar sobre a sua gestão, ignorando que o relator buscava saber justamente o que ele implantou e não era executado anteriormente.
Em meio a isso, senadores governistas como Fernando Bezerra (MDB-PE) e Marcos Rogério (DEM-RO) iniciaram um bate-boca, ao dizer que Renan Calheiros buscava induzir respostas de Queiroga, a que o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apontou a existência de um "time que não quer que essa CPI trabalhe".
Como comandante dos processos da CPI, Omar Aziz até sugeriu suspender a sessão, como feito no dia anterior (veja aqui), mas antes preferiu advertir os colegas e o ministro. "Eu acho que o senhor não entendeu sua posição aqui. O senhor tem que dizer que sim ou não. O senhor está aqui como ministro da Saúde e como médico", lembrou.
Neste momento, Renan foi mais específico e perguntou se o ministro compartilha da opinião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), especialmente sobre o uso de cloroquina. Mais uma vez, a resposta não foi objetiva. "Essa é uma matéria técnica, existem correntes da Medicina, uma é contrária, outra defende o medicamento precoce", pontuou Queiroga, acrescentando que o relator estava exigindo dele um "juízo de valor".
Pois nem quanto o presidente da CPI interviu e questionou de maneira simples e direta — "você é a favor de prescrever cloroquina, sim ou não?" —, ele conseguiu arrancar uma resposta definitiva de Queiroga.
É neste clima que a sessão, que ainda nem passou dos questionamentos do relator, deve avançar pelo turno da tarde. Se o cronograma for mantido, ainda hoje os parlamentares ouvirão o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.
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