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segunda-feira, 2 de março de 2020

Meu Malvado Favorito: Flexibilizar limites é paixão nacional

por Fernando Duarte / BN
Foto: Divulgação
Ultrapassar limites. Essa tem sido uma reclamação recorrente contra o presidente Jair Bolsonaro. Há muito tempo, antes mesmo dele se tornar "presidenciável", o ex-deputado federal não se preocupa com qualquer linha limítrofe. Ele segue cruzando-as. Eis que o problema não é apenas Bolsonaro, por incrível que queiramos pintar. Essas sucessivas investidas "além do limite" são resultados do excesso de flexibilidade brasileira para tolerar erros, algo que não é reflexo de agora.

Ao constantemente revisitarmos o passado, deixamos passar algum tipo de erro, que torne conveniente essa nova versão. Por isso há quem defenda a ditadura militar, ainda que possamos listar centenas de limites cruzados pelos homens de farda. Há quem defenda José Sarney, por exemplo, sendo que as derrapadas econômicas afundaram o Brasil no final dos anos 1980. Como esquecer que Fernando Collor, depois de expurgado do Palácio do Planalto voltou a Brasília pela porta da frente do Senado? Ou quem, veja, ache que Fernando Henrique Cardoso foi o presidente que o PSDB diz que ele foi, sem qualquer ressalva à historiografia oficial - o remedo da reeleição que o diga.

Mais recente, podemos falar das crises do mensalão com Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é um herói inabalável, cuja lado demoníaco é pintado pela imprensa que se aliou a grandes grupos econômicos para por fim ao desenvolvimento social no Brasil. Sem falar na pobre Dilma Roussef, que se tornou dilmãe e puniu malfeitos, como o petrolão, colocando-os para baixo do tapete. Para não ser injusto, Michel Temer e sua trupe também não poderiam ficar de fora. O mordomo de filme de terror sequer cometeu um crime, apenas foi flagrado pedindo pra "manter isso aí", estabelecendo o quão flexível o Brasil é. 

Antes que seja acusado de falsas simetrias, não estou comparando diretamente nenhum desses gestores. Estou apenas lembrando que, ao longo das últimas décadas, nos acostumamos em mudar os limites quando eles são alcançados. Bolsonaro é apenas um caso mais explícito - e recente - dessa "compaixão" recorrente. Por excesso de permissividade, de ingenuidade ou de burrice, a depender de quem seja o observador e do contexto histórico. Há solução para esse problema? Só o tempo irá dizer se fizemos certo ou errado. Enquanto isso, aplicar a lógica de "quem tem limite é município" fala muito mais de nós enquanto sociedade do que uma simples brincadeira pode esconder. 

Este texto integra o comentário desta segunda-feira (2) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.

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