Um ataque a tiros contra uma cerimônia em Cabul, capital do Afeganistão, deixou ao menos 32 pessoas mortas nesta sexta-feira (6), menos de uma semana após a assinatura do acordo de paz entre os Estados Unidos e o Taleban que busca por fim à violência no país.
Além dos mortos, que incluem crianças, ao menos 58 pessoas também ficaram feridas, de acordo com o Ministério da Saúde do país.
O grupo terrorista Estado Islâmico, que não faz parte do acordo, reivindicou a autoria do ataque. Segundo sua agência de notícias, a ação deixou 150 mortos e feridos -nenhuma evidência que corroborasse as declarações foi apresentada.
Desde o anúncio do pacto entre Taleban e EUA, no último sábado (29), houve um aumento das tensões entre o Taleban -que negou envolvimento no ataque- e o governo afegão, que não participou das negociações e tem se recusado a cooperar.
Pelo acerto, o Taleban se compromete a parar de fazer ataques, a não apoiar grupos terroristas e a negociar com o governo afegão.
Em troca, todas as tropas dos EUA e da coalizão da Otan deixarão o país até abril de 2021, e o grupo islâmico ficará livre de sanções, caso os termos acordados sejam cumpridos.
A retirada de tropas será feita de forma gradual ao longo de meses, e o número de militares estrangeiros no Afeganistão será reduzido de cerca de 14 mil para 8.600 até julho. No entanto, caso haja o retorno da violência no país, o processo pode ser revertido.
Além disso, o governo dos EUA prometeu libertar cerca de 5.000 prisioneiros ligados ao Taleban. Em troca, o grupo soltará cerca de 1.000 presos.
O governo afegão, porém, posicionou-se contra essa medida, e no domingo (1°) o presidente Ashraf Ghani anunciou que não libertaria os prisioneiros.
Segundo diplomatas ocidentais, os negociadores americanos enfrentam dificuldades em fazer o governo afegão e o Taleban conversarem. Para tentar melhorar a situação, o presidente americano, Donald Trump, conversou diretamente com um líder do grupo na terça (3).
Apesar disso, os EUA realizaram um bombardeio contra posições do Taleban no dia seguinte. O ataque desta sexta foi o primeiro na capital desde a assinatura do pacto.
De acordo com testemunhas, o ataque começou com uma explosão, seguido pela entrada de homens armados no local onde acontecia uma cerimônia em memória de um líder tribal morto há 25 anos.
O evento contava com a presença de Abdulaah Abdullah, considerado o principal nome da oposição ao presidente Ghani. O líder opositor conseguiu escapar ileso, segundo seus assessores.
Os dois disputaram o segundo turno da última eleição presidencial, em setembro do ano passado. Após os resultados iniciais darem vitória a Ghani -que buscava a reeleição- por uma margem apertada, Abdullah se recusou a aceitar o resultado e montou um governo paralelo.
Só no último dia 18, cinco meses após a realização do pleito, é que a vitória de Ghani foi confirmada oficialmente pela comissão eleitoral, o que fez aumentar o temor de novos confrontos.
Apesar da disputa, Ghani ligou para o rival nesta sexta para lamentar o episódio. Em uma rede social, ele afirmou que a ação "é um crime contra a humanidade e contra a unidade nacional do Afeganistão".
Abdullah, por sua vez, pediu uma investigação independente para determinar quem foi o responsável pelo ataque.
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