por Fernando Duarte
A mobilização em torno da Amazônia tem rendido, mais uma vez, tensão nos círculos sociais brasileiros. Enquanto uma parcela acredita em dados divulgados por órgãos de pesquisa, outros fazem questão de descredibilizar qualquer tentativa de apontar o risco a que a maior floresta tropical do mundo está exposta. Nesse meio tempo, milhares de metros quadrados seguem sendo devastados – com velocidade maior do que o “normal” – e o tema passou a ser pauta internacional, gerando inclusive um debate sobre intervenção na área. E foi que aí que o bombardeio de informações contraditórias e falsas dominou as redes sociais.
Tudo bem que atacar o mensageiro já se tornou uma rotina no Brasil. Ao invés de questionar o conteúdo da mensagem, é comum que aquele que a transmite passe a ser atacado. O problema, no entanto, é maior que esse. A batalha narrativa é o que preocupa. Não dá para fingir que a Amazônia não está em acelerado processo de deterioração. Tapar o sol com a peneira não resolve e atacar quem critica isso é tentar ludibriar o leitor, o ouvinte ou quem quer que seja.
Até poucos dias atrás, a discussão estava quase restrita a brasileiros interessados no tema. A demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ricardo Galvão, foi o que expôs a situação para o mundo. O INPE vem monitorando a área amazônica há décadas. E Galvão acabou punido por fazer um alerta sobre a periclitante situação recente da floresta. Isso, não necessariamente, imputa a responsabilidade à atual administração federal. Outras gestões também não colocaram a Amazônia como prioridade e, “muito a muito”, o “pulmão do mundo” foi sendo devastado. Quem perde não é o governo, é o futuro do país. E do planeta.
Foi o presidente da França, Emmanuel Macron, quem trouxe o debate para líderes políticos internacionais – isso depois da Alemanha e da Noruega cancelarem as doações para o fundo de preservação da Amazônia. O dirigente pediu que o G7, grupo das nações mais ricas do mundo, tomasse ações urgentes para defender a floresta. Enquanto isso, lideranças brasileiras passaram a desqualificar Macron e apontar que não cabe ao mundo manifestar preocupação.
Dentro da lógica de um nacionalismo barato, até faz sentido essa postura. Porém não é momento para essa posição. Independente da legitimidade para outros países quererem uma reação, a discussão sobre a forma como o Brasil gere a Amazônia é urgente. Ali, o patrimônio natural e cultural é muito mais importante do que qualquer valor monetário. Infelizmente, não é assim que muitos brasileiros insistem em pensar. E, no afã de parecerem equilibrados, se aproveitam de minimalismos para ironizar quem pensa de maneira distinta.
Rir de uma publicação em que uma mulher desenhou uma girafa com a legenda “Pray for Amazônia” não ajuda em nada no debate. No máximo credencia um atestado de que preferimos viver em um circo ao invés de discutir se a floresta amazônica precisa de atenção. E isso não é uma questão de governo. É uma questão de nação.
Este texto integra o comentário desta segunda-feira (26) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Clube FM, Líder FM e RB FM.
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