Abreu e Lima: investimento previsto de US$ 17,1 bilhões para processar 230 mil barris de óleo por dia
Até hoje, na história, nenhuma refinaria de petróleo, independente do combustível que irá produzir, custou tanto dinheiro. O recorde até o momento pertence à refinaria Al Zour, um projeto que ainda não foi tirado da gaveta pela estatal petrolífera do Kuwait (KNP, na sigla em inglês). Pelas estimativas da KNP, a refinaria está avaliada em US$ 19 bilhões. Já a refinaria mais cara já construída é a de Jamnagar, na Índia. Trata-se do maior complexo de refino de petróleo do mundo, com capacidade de processar mais de 1,2 milhão de barris por dia, cinco vezes a capacidade projetada para a Abreu e Lima.
Há quem diga, no entanto, que números absolutos não são os melhores indicadores para definir se uma refinaria é cara ou não. Em geral, o mercado usa a relação do custo da refinaria com o número de barris de petróleo que ela é capaz de processar. Usando esse parâmetro, a Abreu e Lima também é recordista. No projeto do Kuwait, o custo de processamento por barril é de US$ 30 mil. Na refinaria indiana, ele cai para US$ 10 mil. Na Abreu e Lima, o custo para se refinar um barril de petróleo já esta na casa dos US$ 75 mil e subindo.
Envolta em críticas, polêmicas e muitas denúncias, a refinaria pernambucana é quase um tabu na estatal brasileira. Procurada pela reportagem do iG, a Petrobras informou que não teria como se manifestar até a publicação desta notícia sobre a disparidade dos valores entre a Abreu e Lima e suas pares espalhadas pelo mundo.
Em seu favor, no entanto, a Petrobras pode argumentar que avaliar o custo de uma refinaria de petróleo e gás é um processo complexo. Essa é a tese corrente entre especialistas do setor. De acordo com eles, o valor final do investimento necessário varia de acordo com os produtos que serão produzidos (no caso da Abreu e Lima, principalmente óleo diesel) a densidade do petróleo (alta, no caso brasileiro, o que dificulta o refino) e quanto de enxofre e de impurezas precisarão ser retirados no processo de refino.
É uma conta complexa. “Às vezes é difícil comparar custos, porque cada grupo inclui diferentes itens em sua composição”, diz Dave Geddes, um economista e consultor de planejamento que trabalhou por mais de 20 anos em uma das maiores construtoras americanas, a Bechtel, avaliando a viabilidade econômica de projetos de refinarias nos Estados Unidos, na Ásia, no Oriente Médio e na América Latina. “De qualquer forma, é o valor mais alto que eu já vi”, diz, referindo-se a Abreu e Lima.
Hoje uma boa referência de relação entre preço de construção de refinarias e capacidade de processamento é justamente o da usina de Al Zour, na faixa dos US$ 30 mil. Para Tadeusz Patzek, professor e membro do conselho do departamento de petróleo e engenharia de geossistemas da Universidade do Texas, em Austin, um dos principais polos dessa indústria no mundo, o valor da usina do Kuwait tende a ser uma referência mundial. “Dificilmente veremos refinarias custando o que custavam no passado”, diz ele. O valor atual chega a ser o dobro do padrão predominante há poucos anos, de US$ 15 mil a US$ 20 mil. Ainda assim, está bem abaixo do que a Petrobras vem conseguindo em Pernambuco.
Até o final de abril, a Petrobras havia investido em Abreu e Lima US$ 8,35 bilhões, o suficiente para que pouco mais de 55% das obras fossem concluídas. O investimento total planejado, por ora, é de US$ 13,4 bilhões, até setembro de 2014. Mas o valor projetado e considerado realista, para conclusão em 2016, é de US$ 17,1 bilhões e pode aumentar em US$ 3 bilhões, caso sejam aceitas as solicitações de ajustes já feitas por epecistas (US$ 2 bilhões), e outras potencialmente identificadas pela Petrobras.
Em ocasiões passadas, a Petrobras alegou que os custos foram revisados para cima em função de uma série de fatores, de chuvas na fase de terraplanagem a incorporação de novas tecnologias para o tratamento de gases e a alta nos preços de serviços e equipamentos. Mas a própria Maria das Graças Foster, presidente da companhia, declarou na apresentação do plano de negócios da Petrobras para o período de 2012 a 2016, que a história de Abreu e Lima deveria ser escrita e lida para não ser repetida. É o que os contribuintes brasileiros e os milhares de acionistas da Petrobras espalhados pelo mundo esperam.
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