Pesquisa aponta aumento expressivo de feminicídios e tentativas durante períodos de folga, quando vítimas passam mais tempo com agressores
Eduardo Pinzon - SBT News

Como se o cenário já não fosse cruel o suficiente, os casos de violência contra a mulher crescem quase 70% em fins de semana e feriados prolongados, como o que estamos agora. Na maioria das situações, a vítima é obrigada a passar mais tempo dividindo o mesmo espaço com o agressor.
Uma pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, mostra que, em finais de semana e feriados, os casos de feminicídio ou tentativas de feminicídio aumentam quase 70% (67%) no Brasil. Enquanto em dias úteis a média é de oito ocorrências por dia, em dias de folga esse número salta para 14. Segundo os pesquisadores, a alta está ligada ao maior tempo de convívio dentro de casa.
“Esse tempo maior de convívio aumenta a tensão, aumenta os conflitos. Há uma probabilidade de aumentar o controle do homem sobre a mulher, então ela fica mais subjugada nesse espaço e nesses períodos”, explica Silvana Mariano, coordenadora do estudo.
Ela acrescenta que o consumo de álcool e outras drogas lícitas ou ilícitas também atua como um fator agravante. “O uso dessas substâncias não causa o feminicídio, mas funciona como um disparador diante de um contexto de violência que já vem progredindo.”
Foi no feriado de Natal que um homem foi preso em flagrante dentro da Delegacia da Mulher de Porto Alegre. A vítima foi procurar ajuda porque estava sendo perseguida pelo ex-marido. Ele entrou no plantão da delegacia e acabou preso. Já no dia 13 de dezembro, um sábado, outro homem perseguiu a ex-namorada até a delegacia. Ele desceu do carro, quebrou a lanterna do veículo da vítima, que registrava ocorrência, e acabou contido e preso pelos policiais.
“Essa conduta demonstra um desrespeito às instituições públicas e também uma tendência a não seguir regras. Por isso, uma medida protetiva talvez não fosse suficiente para manter aquela vítima em segurança naquele momento, e foi necessária a prisão em flagrante para cessar a violência e garantir a segurança dela”, afirma a delegada Thais Dias Dequech, da Delegacia da Mulher de Porto Alegre.
A pesquisa ainda aponta que o número de feminicídios aumentou neste ano. Foram mais de 5.582 assassinatos ou tentativas de assassinato de mulheres no Brasil em 2025, 432 casos a mais do que no ano passado, quando foram registrados 5.150. Metade das ocorrências foi cometida com arma branca.
“É fundamental cessar os relacionamentos violentos, de controle e de possessão, muito antes de perceber esse nível da escalada da violência que chega a esse grau de risco. É fundamental buscar ajuda”, reforça Silvana Mariano.
A delegada Thais Dias Dequech orienta que as vítimas procurem os canais de denúncia. “Buscar ajuda, seja na delegacia de polícia, na Delegacia da Mulher de Porto Alegre, no plantão, ou em qualquer delegacia do Estado. Não é necessária uma agressão física. Qualquer tipo de violência, como a verbal ou psicológica, pode ser registrado e dará início a uma investigação criminal.”
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