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segunda-feira, 21 de março de 2022

INSTRUIR É O MESMO QUE EDUCAR?

Por Humberto Pinho da Silva
No meu tempo de menino e moço, asseverava-se: a maioria dos problemas que afligem as nações, eram causados pela falta de cultura dos povos.

Os políticos, em geral, afirmavam: quando toda a juventude fosse à escola, instruída e diplomada, pensaria melhor e a geria ainda melhor.

Envelheci, a cabeça cobriu-se de finos fios de prata, mas ao dar a minha voltinha dos tristes, estupefacto, verifico: os jovens apesar de estarem mais instruídos, comportam-se tal qual, como os semianalfabetos do meu tempo: berram estridentemente nos transportes públicos, penduram-se nos varões do metro, usam vocabulário ignóbil, são violentos, desrespeitadores e perversos, igual ou pior à geração boçal de outrora.

Portanto, a instrução nada muda, nos modos, comportamentos e no carácter.

Pode, e ainda consegue, embora cada vez menos, melhorar o nível de vida das populações, mas não a educa.

Digo: cada vez menos, devido à abundância de licenciados. A lei da oferta e procura começa a trabalhar.

Em férias que passei em casa de meus sogros, em São Paulo, encontrei electricista, que consertava o chuveiro eléctrico.

Reparou o operário no meu sotaque e estabulou conversa.

Confessou-me que era engenheiro electrotécnico, mas como não encontrou melhor emprego, trabalhava numa oficina.

Em sapataria, nas cercanias do Viaduto do Chá, fui atendido por jurista!...

Em Portugal, não é raro deparar com licenciados a trabalharem em supermercados ou como balconistas

Há anos, o lixeiro, que recolhia o lixo da minha residência, dizia-se engenheiro!... Assim com o carpinteiro, de origem estrangeira, que reformou a minha cozinha.

Conversando, uma tarde, com jovem universitário, declarou-me dolorosamente: " muitas vezes é necessário omitir habilitações, para encontrar trabalho."

Se outrora bastava estudar para singrar, agora, se não for de família influente ou excepcional, o único recurso é envolver-se em política.

O antigo ministro Manuel Carrilho, em 2001, disse ao: " Diário de Notícias": " É difícil encontrar áreas onde os jovens estejam melhor instalados do que na política: aos vinte têm emprego, aos 30 já estão aposentados."

Dei tantas asas ao pensamento, que me esqueci de abordar o tema que pretendia expor: a razão dos jovens comportarem-se como os antigos analfabetos.

A razão é simples: não é a instrução que molda o carácter e o comportamento, mas sim a educação.

A escola ensina, mas não educa. Pode – o que não devia, – inculcar ideologias.

Quem educa, são: os pais, os avós e restante família, algumas vezes a Igreja, mas principalmente as mães.

Como as mães, em regra, já não foram educadas – como podem saber, o que é educar?

Antigamente conhecia-se, pela educação, as classes sociais. Agora encontram-se infelizmente quase todas niveladas, não por cima, mas pela ralé. São os sinais dos tempos.

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