Um homem de 46 anos, sem comorbidades, que já tinha tomado a primeira dose da vacina contra a covid-19, é o primeiro baiano a ter morte registrada por ter sido contaminado com a variante Delta. O Estado já tinha notificado uma outra morte na Bahia, mas esta foi de um morador do município de Niterói, no Rio de Janeiro, de 43 anos, que estava a bordo de uma embarcação dos Estados Unidos ancorada no estado.
Desta vez, a morte registrada foi de um morador de Senhor do Bonfim, cidade localizada no Norte da Bahia. A informação é da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e confirmada pela Prefeitura. O homem morreu no dia 26 de agosto, mas a contaminação com a variante Delta só foi divulgada nesta segunda-feira (20).
Segundo a prefeitura, ele começou a apresentar sintomas no dia 30 de julho, testou positivo no dia 3 de agosto e no dia 7 foi internado no Hospital Dom Antonio Monteiro, de Senhor do Bonfim. No dia 24, ele foi transferido para o Hospital Promatre, em Juazeiro, onde morreu dois dias depois. Ainda segundo a gestão municipal, o rapaz, que não teve o nome divulgado, apresentou tosse seca, coriza, dor muscular, dor de cabeça, desconforto respiratório e apresentou dessaturação. Apesar disso, ela já tinha tomado a primeira dose da vacina AstraZeneca no dia 25 de maio de 2021, ou seja, pouco mais de dois meses antes de morrer. Ele foi o 78º óbito por covid registrado em Senhor do Bonfim.
Desde então, 25 dias depois, outras cinco mortes foram notificadas na cidade de 80 mil habitantes: uma idosa de 74 anos, que tinha tomado duas doses da vacina; outra idosa de 64 anos, que não tomou a vacina; um idoso de 68 anos, que também não foi vacinado; outro idoso de 84 anos, vacinado com apenas uma dose; e uma idosa de 90 anos, tabagista, que tinha completado a imunização. Essas informações são divulgadas diariamente no boletim epidemiológico municipal e compartilhado nas redes sociais da Prefeitura de Senhor do Bonfim.
Na postagem referente ao rapaz de 46 anos, contaminado pela variante Delta, familiares relataram, nos comentários, problemas durante o atendimento. É que, no tratamento, o paciente precisou fazer diálise, algo que não é ofertado no hospital. “Se não fosse a demora dos médicos para fazer a transferência do meu marido, ele não teria falecido. Nunca ouvi falar de um hospital que atende pacientes entubados com covid-19, mas não faz diálise, ainda por cima a demora. Uma grande falta de profissionalismo e de humanidade”, escreveu a esposa da vítima, identificada como Janete Oliveira. Em sua foto do perfil, ela trazia uma mensagem de luto. Janete é o segundo caso da variante Delta identificado em Senhor do Bonfim.
Segundo a prefeitura, a paciente tem 40 anos, não tem comorbidades, testou positivo no dia 3 de agosto, assim como o marido, e apresentou como sintomas tosse seca, coriza, dor no corpo, dor de cabeça, dor torácica e desconforto respiratório. Hoje, ela está bem, em casa, lúcida, orientada e com leve desconforto quando faz esforços, mas não transmite mais a doença. No entanto, a reportagem conversou com uma familiar do casal que negou a existência de qualquer desconforto. Ela também disse que, na sexta-feira (17), a família recebeu o comunicado de que a contaminação tinha sido causada pela variante Delta. “Ele não viajou e, para ter pego, alguém o contaminou, não é? Eu não entendo como que ele e a esposa foram os primeiros em Senhor do Bonfim”, disse a moça, ainda impactada com a notícia.
No início do ano, o irmão da vítima também faleceu por causa da covid-19. Ele não teve sequer a oportunidade de tomar a primeira dose da vacina. Responsável pelo monitoramento das pessoas com covid, a médica Pollyana Huback confirmou que a transferência para o Hospital de Juazeiro foi devido a necessidade da diálise. ”Nossa UTI não tem diálise. O Governo do Estado não disponibilizou esse serviço para a gente e ainda não tem previsão de quando teremos. Antes, tínhamos 20 leitos aqui. O Governo fechou 10 e estamos tentando reativar, mas ainda não obtivemos resposta”, afirmou. Quanto a demora na regulação alegada pela esposa, a médica explicou que isso acontece por causa do próprio sistema estadual. “Quando a gente solicita a transferência, tem a demora da regulação. Ela só saiu no dia 24 e, neste mesmo dia, ele foi transferido”, lembra. Pollyana disse que o sequenciamento genético foi solicitado pela equipe médica no dia 18 de agosto, oito dias antes do paciente vir a óbito. “Ele não era idoso e não tinha comorbidade. Teria tudo para evoluir bem, mas não teve uma evolução satisfatória. Isso chamou a atenção nossa para ter o sequenciamento. Hoje, esses dois pacientes são os primeiros casos positivados da Delta descobertos graças ao sequenciamento, mas a gente não sabe quantos de fatos já têm, pois não são todos que positivam que são sequenciados pelo Lacen”, explica a médica. Isso significa que, na prática, o número de casos da Delta em Senhor do Bonfim é maior do que dois. Levando isso em consideração e as cinco mortes por covid que aconteceram nos últimos 25 dias na cidade, Pollyana relata o medo de uma terceira onda já está começando no município por causa da variante. “As pessoas não estão respeitando o distanciamento, medidas de higiene, muita gente não usa mais máscara... tudo isso contribui para a disseminação da variante. Eu venho sempre batendo na mesma tecla de que a gente precisa se preparar. Se não houver mudanças no estilo de vida das pessoas, podemos ter uma terceira onda sim”, lamenta.
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