Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em Cruz das Almas, cidade do recôncavo baiano, apura a morte de um paciente por suposto erro médico e o atestado de óbito dele com a assinatura falsificada de uma médica. Informações do G1
A comissão também investiga possíveis trocas de vacinas, adulterações e destruições de cartões de vacinação de moradores da cidade.
Segundo o presidente da Câmara de Vereadores, Thiago Chagas, a CPI apura a morte de Ronaldo Conceição Teles, de 42 anos, no dia 5 de abril deste ano. O paciente deu entrada no Centro de Covid-19 de Cruz das Almas com sintomas do coronavírus.
De acordo com Thiago Chagas, Ronaldo Teles foi submetido a ventilação mecânica e há indícios de que tenha ocorrido um erro no momento da intubação do paciente.
Durante as investigações da "CPI da Covid", uma equipe montada pela Câmara de Vereadores descobriu que a médica Alana Maria Sena Ferreira, que teria cometido o erro, nunca trabalhou no município.
O presidente da Câmara de Vereadores afirmou que o nome de Alana Ferreira e o registro do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) aparecem no atestado de óbito digital de Ronaldo Conceição Teles e também em registros de postos de atendimento da cidade.
No entanto, ao ser ouvida na CPI da Covid, Alana Ferreira, no dia 19 de agosto, conseguiu comprovar que no dia da morte de Ronaldo Conceição ela atendia na cidade de Uauá, no norte da Bahia, onde ela trabalha. A médica também ressaltou que nunca foi em Cruz das Almas e não conhece ninguém que trabalha no município.
Após ser procurada pelos integrantes da CPI e descobrir que o nome dela estava envolvida na investigação do possível erro médico em Cruz das Almas, Alana Ferreira registrou um boletim de ocorrência na 1ª Delegacia Territorial (DT) de Juazeiro.
O G1 entrou em contato com a Polícia Civil que, por nota, informou que o caso está em investigação, que a médica foi ouvida na unidade e outros depoimentos foram agendados para esclarecer o fato.
O presidente da Câmara de Vereadores também relatou ao G1 que ao errar durante a tentativa de intubação do paciente, uma outra médica foi chamada para tentar ajudar a profissional. Essa outra médica trabalha em uma unidade de saúde de Cruz das Almas e não tem especialização em tratamento contra a Covid-19.
Thiago Chagas informou que essa outra profissional também foi ouvida na CPI, mas alegou que a médica que assinou como Alana Ferreira estava paramentada enquanto ela esteve no Centro de Covid-19. Por isso, ela não sabe identificar quem era que estava com ela na sala.
No dia 1º de setembro, o secretário de Saúde de Cruz das Almas, Henrique Calhau, seria ouvido na CPI do Covid, mas pediu afastamento do cargo, um dia antes.
No seu lugar, uma representante da prefeitura, a coordenadora da Secretaria de Saúde, Kaliane Ferreira, foi enviada, mas de acordo com Thiago Chagas, ela não soube explicar quem foi a médica responsável pela intubação de Ronaldo Teles.
A comissão ainda vai ouvir outros representantes do órgão municipal em busca de respostas. Está previsto depoimento do diretor médico responsável pelas contratações na época em que o caso aconteceu.
O que diz a prefeitura
A prefeitura de Cruz das Almas informou ao G1 que apura a denúncia e tem colaborado com a CPI. Segundo nota da prefeitura, a Secretaria de Saúde teve conhecimento de que uma falsa médica teria atuado no Centro de Covid-19 do município, através das notícias divulgadas pela imprensa e de um vídeo publicado nas redes sociais da Câmara de Vereadores. A pasta alega que em momento algum foi comunicada oficialmente sobre o caso.
No entanto, de acordo com a prefeitura, mesmo sem ser comunicada oficialmente, a direção médica da Secretaria de Saúde iniciou uma investigação para apurar a veracidade dos fatos, registrando, inclusive, um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia local, e também formalizando ao Cremeb o ocorrido.
A prefeitura relata que no dia 4 de abril, a médica de nome Alana Maria Sena Ferreira deu o plantão na Unidade de Referência para Covid-19, em substituição a uma médica do quadro oficial da secretaria, à revelia do conhecimento da diretoria médica e do secretário da pasta, apesar das várias etapas.
"Até tomar conhecimento da suposta fraude, através da reportagem, a atitude era vista como uma conduta administrativa, para que o plantão não ficasse à descoberto", disse a prefeitura em nota.
A Secretaria de Saúde afirmou que na unidade consta a passagem da médica como plantonista substituta, sem a mesma ter frequentado as unidades de saúde em outras ocasiões, e não obtendo nenhum vínculo com o município.
"Vale ressaltar que o município acionou o seu corpo jurídico para apurar os fatos, atinentes a um possível golpe com médico falso, que infelizmente tem ocorrido em vários municípios baianos", afirmou o órgão.
"A Secretaria de Saúde preza sempre pela transparência e pela qualidade de serviços oferecidos e está imbuída em esclarecer o fato e levar a verdade à população, eis que, caso se concretize a denúncia, também fora vítima de uma fraude".
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