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O economista, pesquisador da instituição de ensino superior Insper e um dos idealizadores do Bolsa Família, Ricardo Paes de Barros, criticou o desenho “essencialmente cego” do auxílio emergencial atual, em entrevista ao Jornal O Estado de S. Paulo. “Se tiver um campeonato de programa mal desenhado, o auxílio emergencial ganha disparado”, ressaltou.
“O auxílio emergencial teve um dos piores desenhos que se poderia imaginar. Beneficiou 70 milhões de pessoas, enquanto no máximo 10 milhões ou 12 milhões perderam o trabalho durante a pandemia, e o salário daqueles que não perderam o trabalho não caiu. Se considerar os que já vinham desempregados, dá 20 e poucos milhões. O auxílio emergencial é um benefício grande demais, para um número de pessoas grande demais”, disse.
Segundo ele, na entrada da crise, quando não sabíamos o que iria acontecer, foi “uma boa ideia. Mas a gente não pode continuar com um programa essencialmente cego. (…) O auxílio é hoje uma coisa que não faz nenhum sentido. Se tiver um campeonato de programa mal desenhado, o auxílio emergencial ganha disparado. Ele parte do princípio de que a crise é muito mais ampla do que é, e isso leva a um custo muito maior do que somos capazes de suportar”, afirmou.
“O auxílio emergencial foi uma oportunidade ímpar para melhorar o Bolsa Família. Para isso, precisaria estar mais em contato com as famílias pobres. Precisa é usar os 250 mil assistentes sociais que temos espalhados pelo Brasil para realmente conhecer quem são os cinco milhões de famílias (invisíveis). A retomada da economia é muito importante, mas esses trabalhadores vão precisar de apoio para se reinserir, com assistência técnica, financeira, formação, capacitação, crédito. Isso vai ser impossível se não analisar caso a caso. A política social é feita lá na ponta”, citou, sobre o engavetamento momentâneo da reformulação do Bolsa Família para dar uma nova rodada de auxílio emergencial.
“Não temos 40 milhões de trabalhadores desempregados ou sem trabalho. Tem uns 20 milhões e poucos, e 12 milhões já estavam desempregados antes da pandemia. A gente pode querer ajudá-los, mas é para isso que serve o seguro-desemprego, o Bolsa Família”. Com isso, ele acrescenta: Se for 40 milhões de adultos em idade ativa, parece gigantesco e vai custar uma fortuna. Precisamos saber quem realmente precisa. Não pode é do nada chegar à conclusão de que existem 40 milhões de pessoas que precisam, que eu não sei quem são e vou continuar sem saber, e gastar esse dinheiro todo para uma transferência que eu não sei se realmente preciso fazer. Gastar cegamente com auxílio emergencial parece ser a pior coisa a ser feita”, continuou.
“Brasil já gasta R$ 1,5 trilhão na área social, não é uma questão de falta de recurso. Um plano não é ‘quero construir uma ponte através desse rio’. O plano é como é a ponte, desenhar, mostrar que ela vai ficar de pé. A lógica tem que ser revertida, vamos ter o projeto e correr atrás de dinheiro. A gente devia estar cobrando mais como o dinheiro vai ser gasto”, concluiu. (A Tarde)
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