Quando terminar a operação de desencalhe do cargueiro gigantesco, serão necessários três dias e meio para que todos os navios na fila de espera consigam atravessar o canal
Correio Braziliense
Foto: Maxar Technologies / AFP
O porta-contêineires "Ever Given", que bloqueia o Canal de Suez há quase uma semana, foi reorientado em 80% na "direção correta" - anunciou a Autoridade do Canal (SCA) nesta segunda-feira (29), mas as operações continuam para fazer o navio voltar a flutuar por completo.
Quando terminar a operação de desencalhe do cargueiro gigantesco, que paralisa o tráfego marítimo desde terça-feira da semana passada nesta via estratégica, serão necessários três dias e meio para que todos os navios na fila de espera consigam atravessar o canal, afirmou o presidente da SCA, Osama Rabie.
O presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, comemorou o bom resultado da operação.
"Hoje, os egípcios conseguiram acabar com a crise do navio encalhado no Canal de Suez, apesar da grande complexidade técnica do processo", tuitou o chefe de Estado.
"A posição do navio foi reorientada em 80% na direção correta", declarou o almirante Rabie, ao explicar que "a popa do navio se afastou 102 metros da margem, quando antes estava a apenas quatro metros".
Ele também disse que o início da operação para liberar o cargueiro teve "êxito".
"As manobras para fazer o navio flutuar novamente serão retomadas quando o nível da água voltar a aumentar", explicou o almirante, antes de destacar que, nas próximas horas, a água subirá de maneira suficiente "para recuperar totalmente o cargueiro e colocá-lo de novo no meio da via".
Um pouco antes, a empresa japonesa japonesa Shoei Kisen, proprietária do porta-contêineres confirmou que o "Ever Given" conseguiu "girar", mas ainda "não flutuava".
- 425 navios bloqueados -
No total, 425 navios estavam retidos nesta segunda-feira nos dois extremos e no centro do canal que liga o Mar Vermelho e o Mediterrâneo, segundo a revista especializada Lloyd's List.
Quando "Ever Given" for liberado, "o canal funcionará 24 horas", afirmou o almirante Rabie em entrevista ao canal Sadaa al-Balad.
Uma porta-voz do grupo dinamarquês de transporte marítimo Maersk informou à AFP que a empresa aguarda "as próximas etapas. É muito cedo para dizer quanto tempo vai levar para rebocar o navio e quando o Canal de Suez será reaberto".
O "Ever Given" - de 400 metros de comprimento e 220.000 toneladas de peso - está retido na diagonal desde o dia 23 de março e bloqueia completamente o Canal, que tem 300 metros de largura e é uma das vias mais transitadas do mundo.
Quase 10% do comércio marítimo internacional circula pelo Canal de Suez. Cada dia sem atividade representa muitos atrasos e custos.
Uma imagem obtida pela AFP nesta segunda-feira mostra a popa do "Ever Given" afastada da margem oeste do canal, assim como vários rebocadores operando ao redor do cargueiro colossal.
Um funcionário do canal que pediu anonimato afirmou que "as equipes fizeram controles técnicos e confirmaram que o motor do navio funciona".
- Perdas milionárias -
Muitos rebocadores e dragas para aspirar a areia de debaixo do cargueiro foram utilizados nas operações.
O rebocador holandês Alp Guard chegou ao canal no domingo à noite e o italiano Carlo Magna nesta segunda-feira, de acordo com sites que monitoram o tráfego marítimo.
Quase 27.000 metros cúbicos de areia foram retirados até domingo, a uma profundidade de 18 metros, anunciou o porta-voz da SCA, George Safwat.
As autoridades admitem dificuldades provocadas pela natureza rochosa do fundo.
Ihab Talaat el Bannane, almirante da reserva do Egito, afirmou que o "acidente aconteceu na parte do canal em que o solo é rochoso e mais difícil de escavar".
A seguradora Allianz publicou um relatório na sexta-feira, em que indica que cada dia de inatividade poderia custar ao comércio mundial entre US$ 6 bilhões e US$ 10 bilhões.
O valor total das mercadorias bloqueadas, ou que precisam optar por uma rota alternativa, é diferente, segundo as estimativas: de US$ 3 bilhões, segundo Jonathan Owens, especialista em logística da universidade britânica de Salford, até US$ 9,6 bilhões, de acordo com a revista Lloyd's List.
As autoridades do canal calculam que o Egito perde entre US$ 12 milhões e US$ 14 milhões por dia com o fechamento. Quase 19.000 navios usaram o canal em 2020, segundo a SCA.
Apesar de o incidente ter sido atribuído em um primeiro momento aos fortes ventos combinados com uma tempestade de areia, Rabie não descartou no sábado que uma "falha humana" tenha provocado o bloqueio.
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