Por Humberto Pinho da Silva
Afazeres profissionais, levaram-me à cidade de Aveiro. Terra de moliceiros e ovos-moles.
Fui de comboio, que ia repleto de passageiros e malas. Levava comigo pequeno saco de viagem, com muda de roupa e objectos de higiene.
Diante de mim, senhora, já idosa, de cabelos aloirados, sentou-se junto da janela. Na mão trazia subscrito e papéis dobrados em quatro
Deu-me os bons dias, num português macarrónico, de timbre italiano. Rapidamente soube, que era de origem alemã, mas conhecia um pouco de italiano.
Para manter conversa, perguntou-me se era italiano ou espanhol, como lhe responde-se: que era português, mostrou expressão de espanto:
- Mesmo português?! …
- Sim: português do Porto. Nascido e criado nessa cidade…
- Não parece! … Há tão poucos! … – Disse-me, atónita, em italiano pouco inteligível.
Esse encontro e conversa comboiana, fez-me recordar: realmente é difícil ouvir falar português, na baixa portuense. Na Rua de Santa Catarina, o pouco português, que se pode escutar, quase sempre, tem sotaque carioca.
Certa ocasião, ao ler crónica, numa publicação lisboeta, o autor comentava que fora ao Bairro-Alto, e pensara, que ele é que era o turista; só ouvia palavras estrangeiras! …
Recomendava o cronista, que o Departamento de Turismo, colocasse nas ruas dos bairros típicos portugueses, para os turistas poderem escutar o linguarejar lisboeta…
O turismo é vantajoso, para o nosso País: traz-nos preciosas divisas. Mas, o excesso, incomoda…
Todos ficamos satisfeitos que nos venham visitar, e fiquem encantados com a hospitalidade (já no séc. XVIII, José Gorani, dizia: “ os portugueses eram gentis e hospitaleiros” - “Portugal”, Editorial Àtica, 1955)
É bom para o comércio e hotelaria. Os nossos preços, em regra, são baixos, comparados com os da Europa; portanto favorece o turismo. Além de criar emprego, na maioria temporário.
Mas, que os portugueses considerem-se estrangeiros, na sua própria terra, parece-me demais! …
A senhora, que viajou, comigo, para Aveiro, admirou-se que fosse português!
- “ É tão raro encontrar um, em certas ruas e certos restaurantes! …”
Serão poucos?; ou as pensões e os vencimentos, não permitem que frequentem certas ruas e certos restaurantes?
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