por Jade Coelho / BN
Questões culturais, como a competição entre as pessoas e a cobrança e chamamento para responsabilidades cada vez mais cedo, provocam nos adolescentes e jovens a sensação de que eles não podem errar. Estes fatores podem ser diretamente associados ao crescimento no número de casos de depressão, ansiedade e suicídio entre essas pessoas. As constatações são do psicólogo, doutor em Ciências da Saúde e professor da FTC Curt Hemanny.
"O jovem é obrigado a estudar muito, tomar decisões precisas, ele tem a sensação de que não pode errar, e nessa época ele começa a se envolver em relacionamentos, escolher uma profissão, a pensar em dinheiro e projetar o futuro. Então a cultura parece influenciar, colocando várias metas a serem alcançadas, e muitas delas às vezes nem partem da própria pessoa", constatou o especialista em depressão e ansiedade.
Hemanny explicou que estudos têm indicado que os níveis de depressão começam a aumentar a partir da adolescência e chegam ao pico no início da idade adulta. O transtorno tem motivos baseados em três esferas: biológicas, psicológicas e culturais. O profissional chamou a atenção para os dois últimos, que muitas vezes sofrem influência externa.
Ao falar dos motivos psicológicos para a depressão e ansiedade entre jovens e adolescentes, o especialista apontou os problemas familiares como o principal fator. "Famílias disfuncionais, que têm problemas de relação entre pais e filhos, morte dos pais, pais ausentes", listou Hemanny, ao acrescentar os problemas com namorados e amigos a estes fatores.
Ferramentas que passaram a marcar presença na rotina da sociedade nos últimos anos, as redes sociais também contribuem para os transtornos. Incluídas no fator cultural, o psicólogo afirmou que nas redes é evidenciada a competição, através da demonstração de "uma vida ideal, que nem sempre é alcançada". "Isso parece produzir no jovem uma sensação de que a vida que ele tem é inadequada. Quanto mais aquela foto ou aquela postagem é curtida, parece produzir um efeito de que aquilo é o ideal, é o desejável. E se a pessoa não está naquele padrão, naquela idealização, ela se sente inadequada. Isso produz sentimento de tristeza, frustração e menor valia", explicou o professor ao destacar os cuidados com estas ferramentas.
De acordo com o especialista, estudos apontam que os suicídios aumentaram nos últimos anos, principalmente entre os jovens. Um caso recente deste fenômeno ganhou os noticiários e chamou atenção para o tema. No último domingo (21) a adolescente Yasmim Gabrielle Amaral, de 17 anos, conhecida por apresentações musicais no "Programa Raul Gil", no SBT, cometeu suicídio (leia aqui).
A explicação para o crescimento de ocorrências desse tipo é o fenômeno da imitação ou repetição causado por ele. "Estudos mostram que há uma tendência de certas formas de suicídio serem repetidas, assim como eventos catastróficos, como massacres por exemplo. Depois que acontece o primeiro, os próximos ficam mais prováveis. Então há um efeito de imitação. Aquele comportamento parece ser uma alternativa para quem está em situação parecida", alertou. "Isso acontece com vários comportamentos, não só com o suicídio", acrescentou o psicólogo.
Apesar de preocupante, o psicólogo destacou que esses fenômenos, tanto os transtornos mentais quanto o suicídio, podem ser prevenidos. "Nós temos como atuar em alguns fatores, e um deles é assistência, atenção às necessidades dos jovens", afirmou Curt, que ainda defendeu o incentivo, por parte dos pais e das escolas, ao acompanhamento da saúde mental dos filhos através da busca por psiquiatras e psicólogos.
"Estudos mostram que o interesse dos pais na saúde mental dos filhos, em saber como eles estão, como estão se sentindo, é um fator de melhora. A busca por profissionais de saúde mental deve ser incentivada, pelos pais e pela escola", esclareceu.
Entre os sinais que devem ser observados por pais, cuidadores e professores nos jovens estão o isolamento, retração, desinteresse por atividades que antes o jovem gostava, sinais de envolvimento com drogas, mudança no rendimento escolar e a desregulação no ciclo do sono.
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