Em seu depoimento, prestado em março à Comissão da Verdade, o coronel reformado Malhães não se limitou a reconhecer torturas e mutilações de cadáveres. O coronel também afirmou, entre outras coisas, que corria perigo se falasse nomes de pessoas que hoje estão no governo. Em meio a seu depoimento, Malhães chegou a afirmar que o ex-presidente Lula teria sido o mandante do assassinato de dois sindicalistas.
O coronel foi encontrado morto em sua casa, no dia 25 de abril, após um suposto assalto. As circunstâncias do crime ainda estão sendo investigadas.
Veja alguns trechos da entrevista:
Tem que se lembrar disso, estou anistiado, como eles estão anistiados. Se for o caso eu vou dizer gente do governo que deve estar em cana e foi anistiado como eu fui. Porque os criminosos eram eles, eles que assaltavam, eles que sequestravam, eles é que eram criminosos. Esta história de ter a Comissão da Verdade e ela só vê um lado, ela perde a moral comigo. Primeiro que eu não vejo na Constituição, nem vi o Congresso votar, o poder da presidente criar a Comissão da Verdade.
Apesar de confundir Tuma com Fleury, ao falar sobre a revelação de Romeu Tuma Jr, que publicou que Lula foi um agente infiltrado da ditadura, o coronel afirma que não pode dar nomes de pessoas porque correria perigo.
Malhães – Eu vou só fazer uma pergunta para vocês? Saíu no recorte, eu acho que foi no Dia até, em letra deste tamanhozinho (indicou com os dedos) que eu preciso de uma lupa para ler porque eu não enxergo muito bem de perto, que o filho do Fleury havia dito que o presidente, antecessor da Dilma…
CEV-RJ – Lula.
CEV-RJ – Lula
Malhães – … tinha trabalhado para o pai dele. Você leu isso?
CEV-RJ – Li, eu li.
CEV-RJ – Não, não foi o filho do Fleury, foi o filho do Tuma. Num livro…
Malhães – Saiu em letra desse tamanhozinho. Que o cara, ele disse que o.., que o… , seu presidente, deu uma função para ele, para ele perseguir – porque ele fazia relatórios, né? – para perseguir os comunistas que podiam fazer frente ao Lula. Então ele fazia processos, disse ‘eu nunca fiz tanto processo na minha vida’. Ele fala isso, está no rodapé.
CEV-RJ – Filho do Fleury? Não li isso não. O que o filho do Fleury é? É delegado?
Malhães – Não, filho do Fleury. Agora, o Lula botou ele como assessor de não sei de que, de não sei de que…
CEV-RJ – Desconheço.
Malhães – …. e ele disse, o dinheiro do mensalão saiu de onde está o resto, das Ilhas Cayman. Está escrito no jornal…
CEV-RJ – Eu acho que o senhor está fazendo confusão, mas….
Malhães – No entanto, nin… todo mundo … ninguém, como você não viu, a maioria da população não viu. Isso no rodapé. Agora, imagina a importância que isso tem. Por que o jornal não deu a ênfase que devia dar a isso? Conclusão óbvia, os jornais estão comprados.
Conclusão óbvia, as televisões estão compradas. Agora, ficamos nós três remando contra a correnteza….
CEV-RJ – Não, ninguém está remando contra a correnteza, nós estamos remando a favor da correnteza.
CEV-RJ – Coronel, eu ainda estou lá em 1970. Lá no DOI-CODI.
Malhães – Tá, eu já volto lá. Eu não entendi isso.
CEV-RJ – Nem eu, nem estou entendendo. Eu vou procurar essa informação
para eu descobrir e assim que eu…
Malhães – Porque que eles publicaram… eles publicaram… Eles publicaram, mas publicaram em letras minúsculas. Eu só prestei a atenção porque…
CEV-RJ – Eu li isso.
Malhães – …a Cristina enxerga bem…
CEV-RJ – Eu li isso, li isso.
Malhães – … e tudo que dá de repressão ela [a esposa] me chama. ‘É, tão falando aqui’. E ela leu. Aí me chamou, ‘aqui, tem uma notícia gozada aqui. Lula foi agente de vocês?’ ‘Ele foi. Mas está noticiado no jornal?’ ‘Está’. ‘Então, deve estar em uma página?’ ‘Não, está aqui’. Rodapezinho…. Vocês querem que eu seja verdadeiro e diga nomes de pessoas. Vocês vêm o perigo que nós corremos.
CEV-RJ – Não.
CEV-RJ – Não corremos não, coronel.
CEV-RJ – Não corremos perigo não.
Malhães – Não, que vocês não correm. Mas, eu corro.
CEV-RJ – Não, eu acho que não.
CEV-RJ – Coronel, o senhor não corre perigo nenhum. O senhor sabe que não.
Sobre a ascensão de Lula no sindicato, Malhães afirmou que o ex-presidente Lula teria sido o mandante do assassinato de dois sindicalistas:
Malhães – …os meandros… é… é que você não viveu a experiência, mas há experiências fantásticas pra gente viver. Uma é no meio dos altos poderes aquisitivos. Você vai ver cada história que você caí duro para trás. E outra nos meandros políticos. O Lula mandou matar dois por … (…)
CEV-RJ - O Lula mandou matar?
Malhães – Dois. Que na ordem de chegada pra ser presidente do sindicato estavam na
frente dele.
CEV-RJ – Quem são, o senhor sabe os nomes?
Malhães – Não.
A transcrição do depoimento está disponível no site da Comissão Nacional da Verdade.
Leia aqui.
OBSERVAÇÃO: A parte em que ele fala do Lula foi retirada do vídeo, mas pode ser vista na transcrição do depoimento. Na página 158. Veja aqui.
Fonte: Folha Política
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