O Dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra – marca não apenas a morte de Zumbi dos Palmares, mas também reforça a importância de lutar contra a discriminação da população preta.
A luta desta população não é recente e, embora a conscientização sobre a discriminação racial seja cada vez maior, casos de racismo e discriminação ainda são frequentes em diferentes situações sociais.
Respostas rápidas para questões complexas
“Não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. A conhecida frase da filósofa Ângela Davis expõe a urgência de pretos e brancos olharem para o problema.
Mesmo com o maior diálogo sobre o assunto, para muitas pessoas ainda é difícil refletir sobre a discriminação racial e considerar mudar de opinião.
A neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci explica que, não à toa, o cérebro resiste em pensar sobre assuntos que estão fora do contexto em que se está inserido. Isso acontece, porque, segundo ela, o cérebro torna automático tudo que aprende por meio do efeito dos viéses cognitivos.
“Nosso cérebro tem dois sistemas de pensamento: um rápido, que está sempre pronto para fornecer respostas intuitivas e instantâneas, e um mais lento, que é encarregado de tomar as decisões mais complexas”, detalhou.
Ainda segundo ela, seria biologicamente impossível tornar todas as decisões lentas e racionais, pois gastaríamos uma infinidade de tempo e energia, então usamos os vieses cognitivos, que são atalhos rápidos - “simplificações mentais” - baseados em conhecimento parcial, experiências prévias ou suposições. Às vezes estão certos e às vezes errados, não há uma lógica segura.
Vieses cognitivos são construídos ao longo da vida. O cérebro poupa energia enquanto aprende padrões e apenas os reproduz posteriormente.
Basicamente, para poupar energia, o cérebro cria padrões de comportamento não racionais. “Um exemplo disso é uma situação em que a pessoa fica desconfortável perto de uma pessoa que possui certas características físicas – orientais ou afrodescendentes, por exemplo. Não porque conheça a pessoa ou porque ela tenha feito algo de ruim, mas simplesmente porque a pessoa em questão passou a infância ouvindo de seus familiares e amigos que ‘aquele tipo de pessoa não era confiável’, o que ficou enraizado no cérebro e é facilmente acessado e reforçado se não há um estímulo para refletir sobre o porquê daquele pensamento”, alertou.
Os vieses cognitivos e pensamentos preconceituosos
A neurocientista do SUPERA explica que já foram mapeados mais de 150 tipos de vieses que representam jeitos de pensar automáticos, e muitos deles contribuem para perpetuar comportamentos preconceituosos. Hábitos e pensamentos criados pelos vieses são comportamentos rotineiros gradualmente adquiridos pela repetição.