Bruno é apaixonado por idiomas pouco estudados e pôde atuar como intérprete no julgamento de um haitiano, em SP
- Foto: arquivo pessoal
Foi a ajuda do tradutor Bruno Pinto Silva, mestrando em Linguística da USP, que fez a justiça inocentar um haitiano acusado de matar a esposa. O trabalho de intérprete foi essencial para a decisão da Justiça de São Paulo.
O homem, que não teve a identidade divulgada, foi preso injustamente pelo suposto assassinato da esposa. Sem saber falar português, ele não conseguia dar a versão da história e acabou preso por 16 meses. Sim, quase um ano e meio na cadeia injustamente. Por Monique de Carvalho / SNB
O caso só foi solucionado após Bruno, que trabalha como auxiliar da Justiça em São Paulo, ser chamado pelo Fórum Criminal da Barra Funda para auxiliar o homem. Uma história que daria um filme!
O processo
Bruno acessou os autos processuais, mas só teve contato com o homem no dia do julgamento. Até o julgamento, o haitiano ficou detido em uma penitenciária para estrangeiros.
“Ele estava sendo acusado de ter assassinado a esposa. A morte ocorreu em São Paulo e a acusação foi baseada no depoimento de uma única testemunha: um outro haitiano, que fala nosso português”, disse.
Quando Bruno entrou no fórum com o acusado, pôde traduzir a defesa dele e descobriram que a versão do homem era bastante diferente da que tinha sido relatada pela única testemunha ouvida até então. E essa testemunha foi apontada pelo acusado como o real autor do crime.
“Ele estava sendo acusado de assassinar a esposa a facadas, mas alegou que ela havia sido golpeada porque se colocou entre ele e o outro haitiano que o estava atacando com uma garrafa”, destacou.
De acordo com o intérprete, o próprio promotor pediu a absolvição do réu ao encaixar os fatos e perceber que alguns detalhes que ele havia contado faziam sentido ao serem comparados com a perícia.
Finalmente livre
Felizmente o homem foi solto e voltou à penitenciária apenas para pegar os itens pessoais.
Após o julgamento, o intérprete e o haitiano se falaram rapidamente.
“Ele sem dúvida ficou grato, mas devia estar ainda bastante descrente diante de toda a situação. Acho que a ficha deve ter caído algum tempo depois. Como intérprete sou neutro quanto ao caso. Estou lá para possibilitar a comunicação”, disse Bruno.
O trabalho de intérprete feito por Bruno foi essencial nesse caso. Ele conta que estuda o Crioulo, idioma padrão do Haiti e isso fez toda diferença.
“Ensino o crioulo haitiano desde 2014. Eles haviam chamado intérpretes de francês em outros momentos, mas esses intérpretes não conseguiram realizar o serviço [no Fórum Criminal]. A maioria dos haitianos fala somente o crioulo haitiano”, explicou.
Ele explica que mesmo trabalhando no fórum, os agentes demoraram um pouco para encontrá-lo.
Segundo ele, o cadastro que tinha feito na plataforma de auxiliares da Justiça estava expirado havia pouco tempo, e só foi possível encontrá-lo por meio do perfil no Google Acadêmico, onde constava fluência em crioulo haitiano.
“Fico feliz que tenha ajudado em um caso em que teve esse desfecho, mas também ficaria com a sensação de dever cumprido se o desfecho tivesse sido outro. Apesar da grande repercussão dessa história, sinto que isso não deveria ser a exceção, mas a regra. Ou seja, que os imigrantes tenham acesso a intérpretes para que sejam julgados devidamente”, finalizou. Com informações de Jornal da USP
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