Genival Lacerda é autor de clássicos da música popular brasileira. Ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico. - FOTO: Divulgação
O cantor e compositor Genival Lacerda permaneceu em observação no Hospital De Ávila, na Zona Norte do Recife, onde foi internado na segunda-feira (25), após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico. Segundo o boletim médico divulgado na manhã desta quarta-feira (27), o artista evolui bem e está clinicamente estável.
"O Sr. Genival Lacerda foi internado no dia 25/05/2020 no Hospital De Ávila com quadro de AVC isquêmico, evolui bem, consciente, clinicamente estável, se alimentando por via oral. Deverá permanecer sob obervação", diz o boletim assinado por Cristiano Veiga Pessoa, Diretor Médico do hospital, e pelo neurologista e neurocirurgião José Ronaldo Menezes.
Trajetória
Genival Lacerda começou a sua carreira em 1953 em um programa de calouros em Campina Grande, na Paraíba, onde nasceu.
Conhecido como “O Senador do Rojão”, “Seu Vavá”, “Seu Cazuza” e vários apelidos que ganhou ao longo de sua carreira de mais de 60 anos, o músico gravou canções ao lado dos principais autores de forró, como Edgard Ferreira, Rosil Cavalcanti, Buco do Pandeiro e Maruim.
A partir do sucesso Severina Xique-Xique, parceria com o conterrâneo João Gonçalves, que deflagrou a onda do forró de duplo sentido, começou realmente a ganhar dinheiro através da arte. Sua trajetória ainda inclui músicas que já fez muita gente dançar, como "Mate o véio, mate", "Severina Xique-Xique", "De quem é esse jegue?" e outras canções que moram no coração dos nordestinos.
Show Minha Estrada
No dia 10 de agosto de 2019, Genival Lacerda fez um show, em que gravou um DVD, no Teatro Boa Vista, na área Central do Recife, com uma retrospectiva de sua carreira. O evento contou com as participações de Waldonys, Caju e Castanha, Flávio Leandro, Jorge de Altinho, Nando Cordel e João Lacerda, filho de Genival, que canta e faz a direção musical.
No show, além de encantar o público com suas clássicas canções, o artista também fez homenagens a Dominguinhos, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.
A jornada de Genival
Genival Lacerda ficou marcado pelo seu maior sucesso, o xote Severina Xique-Xique, assinado por João Gonçalves e ele. Quando a música estourou país afora, em 1973, Genival Lacerda já estava com onze anos de carreira, contando das primeiras gravações na Rozenblit, em 1962.
Até então, Genival Lacerda era um dos mais destacados nomes da segunda geração do forró. Surgiu na época de Marinês, os dois disputavam programas de calouros nas emissoras campinenses, e um irmão seu era casado com uma irmã de Jackson do Pandeiro, que também começou na cidade.
Genival, no entanto, era um sucesso regional, não apenas como forrozeiro, fazia também personagens cômicos. Chegou a gravar um disco de humor com o ator Lúcio Mauro, a quem conheceu no Recife. As Trapalhadas de Cazuza e seu Barbalho. O “Cazuza” era o personagem de Genival Lacerda, o disco é de 1970. O forró andava por baixo desde o início dos anos 60. Nem o Rei do Baião, Luiz Gonzaga conseguia mais fazer sucesso no “Sul”. Genival estourou ajudado pela conjuntura política da época.
Desde o AI-5, em 1968, a censura partiu com para cima das canções da chamada MPB. Compositores, feito Gonzaguinha, tinham discos inteiros proibidos. Foi então que surgiram os falsos importados, cantores brasileiros, que usavam nomes artísticos sonoramente saxônicos, e compunham e gravavam em inglês.
A censura não perdia tempo com quem cantava em inglês, e nem com os forrozeiros que começaram a fazer sucesso com músicas de duplo sentido, mas quase sempre empregando regionalismos que os censores desconheciam. “De olho na butique dela”, qualquer nordestino entenderia o duplo sentido da expressão.
Da lavra de João Gonçalves, também de Campina Grande, vieram A Filha de Mané Bento e o Radinho de Pilha. As centenas de milhares de discos vendidos, convites para shows por todo o País, presença constante na TV, levaram Genival Lacerda a continuar no que estava dando certo, e deixar as raízes do forró nos seus discos da década de 60 (todos fora de catálogo).
Ele foi, por exemplo, o primeiro a gravar o rojão Eu Vou Pra Lua, do pernambucano Luis de França, que depois tornaria Ary Lobo famoso. Independente do repertório, Genival Lacerda, 89 anos, é o último remanescente, até então em plena atividade, de uma geração de forrozeiros que veio logo em seguida a Luiz Gonzaga, Coronel Ludugero, Marinês, Abdias, Jacinto Silva, Elino Julião ou Zito Borborema. Do Portal NE10
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