Só não enxerga quem não quer: Lula desembarcou do governo Dilma. Se o desembarque é para sempre ou não, só ele sabe. Nada na política é para sempre. Oportunista como qualquer político, Lula concluiu que não dá mais para sustentar Dilma. Ela que se vire!
A mais de um confidente, Lula repetiu que não dá salvar o governo e o PT. Ou uma coisa ou outra. Pelo PT, entenda-se ele, Lula, e suas chances de se candidatar outra vez a presidente da República.
Nada mais natural do que Lula preferir se salvar. Foi sempre assim que procedeu ao longo da vida. É um sobrevivente. Em novembro do ano passado, Lula ainda achava que seria possível evitar que o segundo governo Dilma fosse o desastre que está sendo.
Foi ele quem fez a cabeça de Dilma para levar alguém como Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Dilma convidou para o cargo o presidente do Bradesco. Que indicou Levy. Em junho último, Lula deu o governo por perdido. Foi quando comentou que o PT estava abaixo do volume morto. E que ele e Dilma estavam no volume morto.
Mais tarde, tentou reparar o estrago provocado por seu comentário, mas já era tarde. Da Argentina, onde estava ontem, Lula demarcou-se claramente de Dilma e do seu governo. Primeiro disse que não tinha nenhuma importância a perda pelo Brasil do selo de bom pagador – logo ele, Lula, que em maio de 2008 celebrou com estardalhaço a obtenção do selo.
Depois criticou duramente o ajuste fiscal do modo como ele foi concebido por Levy. Afirmou que um ajuste assim significa arrocho salarial e desemprego. Por que no Congresso os aliados do governo apoiarão o ajuste de Levy se Lula é contra o ajuste?
Está prontinho o discurso básico de Lula e do PT para justificaram uma possível queda de Dilma e a oposição que passarão a fazer a um governo encabeçado pelo vice Michel Temer. A queda será classificada de golpe bem-sucedido da direita. E Lula e o PT se reapresentarão outra vez como os defensores dos pobres maltratados por um governo dos ricos.
Para não ser abandonada por Lula só restaria à Dilma uma saída: entregar para ele a condução do governo, contentando-se em reinar sem mandar. Quem aposta nisso? Não aposto um tostão. Ricardo Noblat
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