Os consumidores estão ajustando as contas para lidar com o cenário de preços em alta e economia fraca. Um estudo comprovou que os brasileiros estão reavaliando gastos e reduzindo até aquelas compras à prestação, que sempre fizeram muito sucesso. Roupas a espera de um comprador. Algumas nem chegaram a ser colocadas na prateleira. Estão na fila, no estoque de uma grande loja de comércio popular em São Paulo. As vendas na região caíram em média 15% este ano. “A queda foi generalizada. Isso desde o segundo semestre do ano passado. E esse ano ficou um pouquinho mais difícil. Esse ano estamos iniciando um ano um pouco mais difícil”, aponta Nelson Tranquez Junior, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro. E o resultado do estoque alto é a promoção. Muitas peças que estão com desconto ainda são da coleção de verão, roupas que já deveriam ter saído da loja no fim do carnaval. E olha só o motivo: “A gente tem medo de gastar. A inflação está subindo dia a dia, então, o orçamento muda, então a gente tem apertar o cinto”, comenta a secretária Bela Ferreira. “Quem comprava dez peças, hoje compra cinco. Quem compra cinco, compra duas e quem comprava duas, sumiu”, diz o vendedor Wilson Madureira. Segundo uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito, feita em 26 capitais e no Distrito Federal, 56% dos brasileiros estão revendo gastos que estavam planejados para 2015 e pretendem cortar produtos considerados não essenciais. E 53% decidiram diminuir as compras parceladas com medo do que pode acontecer no futuro. É o que Regina de Lima tem feito. “Se não você fica presa em uma dívida por muito tempo, e você acaba ficando sufocada o ano inteiro”, afirma a vice-diretora de escola. Os consumidores também têm sentido mais dificuldade para conseguir crédito. É o que disseram quatro em cada dez entrevistados. Deste grupo, a maior reclamação é que os comerciantes estão recusando o cheque pré-datado. “O comerciante tem evitado isso justamente para se precaver na inadimplência nesse segmento”, explica Marcela Kawauti, economista do SPC. E em um cenário assim, ganha quem tiver dinheiro no bolso. “Pela crise financeira no país é mais fácil que você compre à vista, o desconto é maior”, diz um consumidor. “O consumidor que souber passar por 2015 com cautela e com inteligência pode chegar bem em 2016”, afirma a economista Marcela. E Maria já tem uma estratégia para isso. Nunca compra na primeira loja que entra.
Jornal Nacional: Pesquisa bastante e gasta bastante sola de sapato?
Maria José Pereira: É, tem que gastar sola.
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