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domingo, 7 de dezembro de 2014

Andressa Urach: Uma injeção quase letal em cada coxa

NATHALIA BIANCO
EXAGEROU
Andressa em maio de 2014, antes dos sinais de rejeição aos preenchedores. Ela recebeu uma dose 16 vezes superior à recomendada (Foto: Studio Woody)

Eterna vice-Miss Bumbum. É assim que Andressa Urach, de 27 anos, se apresenta no Twitter. Ela ficou em segundo lugar no concurso em 2012 e, desde então, agarrou e criou vários tipos de oportunidade para se tornar famosa. Cuspiu na cara de outro participante num reality show. Apareceu em Campinas, São Paulo, com os seios de fora, no início da Copa do Mundo, à espera do jogador português Cristiano Ronaldo, com quem diz ter passado uma noite. Nas últimas semanas, ganhou notoriedade adicional, por um motivo muito mais sério do que esperava. No fim da semana passada, Andressa começava a se recobrar do período em que ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre. Ela sofreu uma infecção generalizada, após uma cirurgia para retirada, de suas coxas, de dois produtos preenchedores. A Polícia Civil investiga o caso.

Em 2009, ela decidiu injetar uma substância conhecida como hidrogel nas duas coxas. O produto é um gel preenchedor, usado em pequenas áreas com irregularidades na pele, como rugas ou celulite. Se for aplicado corretamente e em pequenas doses, tende a ser eliminado pelo organismo com o passar do tempo, argumentam seus defensores. Cria, porém, alto risco de inflamação e de infecção. “O hidrogel não é um dos produtos mais recomendados, por ter muitos efeitos colaterais”, diz a médica Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reforça a crítica. Em novembro, alertou que não recomenda o uso do hidrogel por motivos puramente estéticos. Informou que não há estudos conclusivos sobre seus efeitos de longo prazo. Denise lembra também que procedimentos invasivos, como aplicação de preenchedores, devem ser feitos por um médico. O profissional precisa conhecer bem a anatomia humana, estudar o histórico de saúde do paciente e ter treinamento para lidar com emergências, que podem ocorrer em qualquer cirurgia.

Andressa submeteu-se a um procedimento que ignorou os alertas das sociedades médicas. Para piorar, envolveu volume de hidrogel muito acima do razoável. Mesmo os profissionais que admitem usá-lo não deveriam injetar nos pacientes, por cirurgia, mais de 3 mililitros no rosto, nem mais de 50 mililitros no resto do corpo. Andressa recebeu 400 mililitros em cada coxa.

Cinco anos depois das injeções, em julho deste ano, ela começou a sentir sinais de rejeição de seu organismo. Submeteu-se a uma primeira cirurgia de lipoaspiração para retirar o hidrogel. “Se pudesse voltar no tempo, nunca teria colocado isso. Confesso que fiquei com muito medo de uma infecção”, disse Andressa. Sua coxa esquerda estava marcada com uma extensa marca roxa e nódulos. Ela não contou ao cirurgião responsável pela lipoaspiração, Julio Vedovato, que passara também por aplicações de PMMA, outro produto preenchedor. Diferentemente do hidrogel, o PMMA é permanente.

De acordo com Denise, da SBD, uma aplicação de grande quantidade de um único preenchedor já representa alto risco. O uso de duas substâncias preenchedoras pode mais facilmente provocar uma infecção.

Na primeira lipoaspiração, constatou-se que o PMMA na coxa esquerda de Andressa provocava a morte de seu tecido muscular. A substância e o tecido morto, grudados, levavam ao quadro de dor e infecção. Em novembro, Andressa se submeteu a uma segunda cirurgia, para retirar hidrogel da coxa esquerda. Dias depois, reclamava de aumento das dores. Vedovato usou um dreno para continuar a retirar os preenchedores. No final daquela mesma semana, em 28 de novembro, Andressa foi internada no Hospital Nossa Senhora da Conceição, com um quadro suave de infecção sanguínea. Foi sedada e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Os médicos conseguiram tornar seu quadro estável, e o hospital desmentiu um boato de que ela corria o risco de perder uma perna. No final da semana passada, os aparelhos foram retirados, e Andressa começava a acordar.

Ela se colocou numa situação de extremo risco por uma conjunção de motivos banais e atuação negligente (na melhor das hipóteses) de profissionais de saúde ou estética. Pode-se questionar o padrão de beleza buscado pela ex-vice-Miss Bumbum e sua estratégia para ganhar dinheiro. Mas ela estava em seu direito, ao pensar em cirurgias plásticas como um investimento capaz de trazer retorno financeiro. Cabe aos profissionais de saúde e estética alertar seus clientes sobre os procedimentos razoáveis e os riscos envolvidos. epoca.globo.com

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