Depois da acachapante, surpreendente e dolorosa derrota para a Alemanha - cujo placar de 7 x 1 jamais ocorreu em uma semifinal na História das Copas - muitos brasileirinhos estão se deparando pela primeira vez com o gosto amargo de uma gigantesca decepção.
De repente o mundo pareceu não fazer mais sentido.
Toda a idealização construída a partir da avalanche de anúncios publicitários apresentando nossos jogadores como super-heróis, da exaltação dos valores da pátria com o "coração na chuteira" e com o hino à capela no gogó, da auto-imagem de "país do futebol", de único pentacampeão do mundo, de terra encantada de craques que pariu Pelé (o maior de todos), em meio a tudo isso, o chão ruiu em sete partes e nos precipitamos em um abismo cuja queda é especialmente dolorosa para os mais jovens.
Tal como se deu no episódio da trágica morte dos "Mamonas Assassinas", quando muitos pais se depararam com a dura tarefa de explicar para seus filhos (talvez muito mais cedo do que desejassem) o que é a morte, para onde seus ídolos foram ou porque aquilo havia acontecido, agora também faltam palavras para emprestar sentido à derrota mais humilhante da história da seleção brasileira.
Pois bem, se a dor dessa experiência é uma realidade sensorial incontestável, é preciso encará-la com sabedoria, abrindo espaço para sua manifestação em casa ou na escola. Compartilhar esse sentimento dolorido, perceber que há outros sofrendo e reparar como cada um, a seu modo, enfrenta isso é algo que dilui o desconforto e ajuda a seguir em frente.
Em algum momento - e dependendo da situação - torna-se importante diluir a importância e significado dessa derrota terrível diante de tantas outras dores do Brasil e do mundo. Reportar o que acontece fora das quatro linhas no espaço demarcado por uma atividade esportiva (sim, o futebol além de imprevisível e injusto é apenas um esporte) nos permite revelar um mundo onde há dores muito mais difíceis de suportar.
Guerras, crueldade, escravidão, miséria, fome (entre outras tragédias pessoais ou coletivas nesse mundão de Deus) podem ser evocadas para que as coisas sejam colocadas nos seus devidos lugares: por mais amargo que tenha sido o sabor do "chocolate" alemão, temos todas as condições de digeri-lo, aprender algo com essa experiência e seguir adiante fortalecidos. Já parou para pensar quantos no mundo trocariam de bom grado suas dores por esta, causada por uma decepção esportiva?
Todos preferíamos ganhar da Alemanha ou pelo menos perder de forma digna. Não foi possível. Agora, é hora de socorrer as principais vítimas dessa "tragédia nacional", como muitos analistas se referem a esse episódio: os brasileirinhos que aprenderam a cantar o hino com a seleção. (Foto: Euricles Macedo) http://g1.globo.com
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