O ciclo de Mário Negromonte como ministro das Cidades termina hoje em uma reunião formal com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. O político que convenceu o PP a apoiar Dilma na campanha presidencial de 2010 não resistiu às denúncias de irregularidades na pasta, à avaliação palaciana de incapacidade administrativa e a um processo de fritura movido pelo próprio partido, do qual já foi líder na Câmara e que hoje é minoritário. Em seu lugar assumirá o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), atual líder pepista na Casa e pertencente ao grupo que dita as cartas na legenda.
Aguinaldo teve que agir para se viabilizar como uma alternativa para o ministério. Ele responde a dois processos no Supremo Tribunal Federal. Um deles, mais grave, por improbidade administrativa: teria dispensado licitação para a compra de vacinas contra febre aftosa durante o período em que foi secretário estadual de Agricultura da Paraíba, entre 1998 e 2002.
Para se consolidar, o ministeriável gastou a sola do sapato nos gabinetes palacianos. Sem Dilma no Brasil – a presidente está desde segunda-feira em viagem a Cuba e ao Haiti –, ele apresentou sua defesa à chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Mostrou documentos comprovando que havia sido absolvido pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, mas que, como o acórdão ainda não foi publicado, o processo ainda tramita no Supremo Tribunal Federal. “Os processos não são suficientes para inviabilizar a nomeação”, confirmou um interlocutor da presidente Dilma.
O nome de Aguinaldo Ribeiro cresceu na bolsa de apostas depois de a presidente desistir de indicar Márcio Fortes para a Cidades. A decisão de Dilma tem menos a ver com a rejeição de Fortes na bancada e mais com o raciocínio de que, se agisse dessa forma, teria que pensar em outro nome para comandar a Autoridade Pública Olímpica (APO).
Além disso, Ribeiro é visto no Palácio do Planalto como um bom líder parlamentar, que assumiu o cargo durante uma crise séria na bancada de deputados, mas que conseguiu assegurar o apoio ao governo, apesar da insatisfação com a truncada articulação política palaciana.
De saída O encontro no Planalto consolidará o pedido feito por Negromonte à presidente na segunda-feira, durante conversa antes da cerimônia de assinatura de ordem de serviço de revitalização da Bacia do Rio Camaçari. Ele ainda se considera inocente das acusações de reunir-se com lobistas ou estimular alterações em projetos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo. Mas estava cansado do fogo amigo e não queria mais expor o governo ao desgaste. “Eu até entendo ser atacado por PT e PMDB, partidos que sempre cobiçaram essa pasta. Mas não dá para aguentar ser fritado pelo meu próprio partido”, disse ele a pessoas próximas.
Negromonte já dava sinais de exaustão no cargo desde a semana passada, em conversa com aliados e parlamentares que se reuniram com ele no ministério. Ainda assim, o governador da Bahia, Jaques Wagner, viajou ao lado da presidente Dilma Rousseff para Cuba na segunda-feira com esperanças de convencê-la a manter o aliado no comando da pasta. Durante as conversas, contudo, Dilma deixou claro que não havia mais espaço para Negromonte na Esplanada. Para preservar o canal de diálogo com a presidente, Wagner preferiu jogar a toalha.
A preocupação voltou-se, a partir de então, para a costura de um acordo com o partido em torno de um nome capaz de manter a fidelidade do PP ao governo não só em sua bancada federal – composta por 34 deputados em exercício e cinco senadores –, mas também nas eleições municipais, cenário em que a legenda tem ensaiado uma relação de “independência” às candidaturas apoiadas pelo Palácio do Planalto. É o caso, por exemplo, da capital paulista, onde o deputado Paulo Maluf (PP) tem se aproximado do pré-candidato tucano à prefeitura Andrea Matarazzo.
O que pesa contra o ministro
Ainda no ano passado, o Ministério das Cidades virou alvo de suspeitas de irregularidades no processo de mudança do modal de transporte de Cuiabá, uma das sedes da Copa de 2014. Em Mato Grosso, houve substituição de um parecer técnico favorável ao BRT (ônibus em corredores exclusivos) por outro defendendo o veículo leve sobre trilhos, o que encareceu o projeto.
A mudança teria a participação do então chefe de gabinete do ministro Mário Negromonte, Cássio Peixoto, demitido em 25 de janeiro. Na época, Negromonte negou as irregularidades no projeto e prometeu instaurar sindicância para apurar se houve alguma ilegalidade.
Pressionado, o ministro chorou em evento na Bahia, sua base política, e admitiu que poderia deixar o cargo caso sua
permanência causasse desconforto à presidente Dilma Rousseff.
Sua situação se agravou após revelação de que integrantes do PP se reuniram com um empresário e um lobista para discutir projeto de
informatização do Ministério das Cidades. O assunto foi tratado em reuniões no apartamento do deputado João Pizzolatti (SC), ex-líder do PP na Câmara e aliado de Negromonte, único representante do partido no primeiro escalão do governo. O ministro participou de um dos encontros, que permitiram que a empresa, a Poliedro Informática, se aproximasse da equipe de Negromonte e discutisse o assunto com o governo antes de outros interessados.
Nesta semana, em mais um sinal de desgaste, o chefe da assessoria parlamentar de seu ministério foi demitido. A exoneração de João Ubaldo Dantas foi assinada pela ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
Outra suspeita levantada contra Negromonte é de que o ministro teria ofertado um "mensalinho" de R$ 30 mil para deputados do seu partido, o PP, em troca de apoio interno.
De http://www.em.com.br/