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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

O incômodo

Por Mariana Benedito–Psicanalista e Psicoterapeuta 
Instagram: @maribenedito
Estava eu aqui finalizando mais um dia de atendimentos e me peguei pensando sobre uma figurinha repetida em todos os álbuns: o incômodo. Esse parceiro massa, que muitas vezes evitamos, traz consigo uma oportunidade de ouro. E por mais que ele seja um tanto quanto inconveniente, muitas vezes, não se engane; ele não é um vilão.

Na verdade, meu amado leitor, o incômodo é um movimento essencial para que não afundemos na mesmice, no egoísmo, na reclamação, no vitimismo, no conhecido transvestido de confortável, sabe? Ele é o empurrão que precisamos para avançar, amadurecer, crescer, sair do lugar!

Estamos vivendo um momento social que nos incentiva a evitar tudo o que é desconfortável. A busca pelo prazer imediato e pelo conforto constante nos distancia do processo de crescimento. Afinal, crescer dói. Exige enfrentamento, exige a coragem de sair da nossa bolha de segurança e enfrentar nossas crenças e tudo aquilo que a gente achava que nos protegia. Esse incômodo, que parece tão insuportável, nos obriga a olhar para aquilo que não está funcionando e a questionar se estamos vivendo de forma autêntica, inteira, com todo o potencial de vida ou se estamos apenas seguindo o fluxo da maré, seguindo o vento sem pegar o leme e direcionar o barco.

Encarar o incômodo é, acima de tudo, um desejo de mudança. Ao nos permitir sentir e sustentar o desconforto, pagamos o preço de mudar o que precisa ser mudado. Esse processo nos faz sair da superficialidade e da infantilidade emocional, nos coloca em um espaço de responsabilidade e de compromisso com o nosso próprio amadurecimento. E convenhamos que não estamos aqui para viver como espectadores da nossa própria vida, mas para assumir a posição de protagonistas. Não é mesmo, meu amado ser que lê estas linhas aí do outro lado?

Quando fugimos do incômodo, deixamos de explorar nosso potencial, duvidamos da nossa capacidade de aguentar as tormentas e enfrentar as mudanças. Pense nas vezes em que se viu diante de um problema e preferiu se esconder, evitar, ou até mesmo culpar o mundo por suas dores. Agora, imagina como seria se, ao invés disso, você tivesse parado, respirado e encarado o que estava diante de você. Cada desafio é uma oportunidade de superação, de autoconhecimento e de fortalecimento. E, creia, você é muito mais forte do que imagina e o cenário é muito mais caótico na sua cabeça!
A vida não se desenrola de maneira linear, é um fato. E querer uma existência sem altos e baixos é uma perspectiva infantil da vida. O verdadeiro amadurecimento ocorre justamente nos momentos de crise, quando somos obrigados a tomar decisões difíceis e a nos responsabilizar pelo que queremos construir. É pagar o preço mesmo! Ao abraçarmos o incômodo, nos tornamos mais confiáveis, mais confiantes, mais fortes, mais nobres, mais conscientes das nossas capacidades e mais aptos a construir relações e uma vida com significado.

Portanto, meu caro leitor, ao próximo incômodo, não fuja. Permita-se senti-lo, sustente-o! Perceba o que ele te aponta sobre o que precisa ser mudado em sua vida. Porque, ao final, o incômodo é o convite potente para que possamos viver de forma mais consolidada. Ele é a chave que nos tira do egoísmo e do vitimismo e nos empurra para um caminho de propósito, estrutura e serviço.

Que tenhamos a sabedoria de amar o incômodo, pois ele é a nossa maior e mais calibrada bússola.

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