Efeito é constatado em 237 voluntários com idades distintas. Aqueles infectados pelo Sars-CoV-2 antes de receberem a vacina têm as defesas ainda mais reforçadas. Para os cientistas, os resultados reforçam a necessidade de imunizar toda a população
Correio Braziliense**Foto: Johann Groder/AFP
Apenas uma dose da vacina contra a covid-19 desenvolvida pelas empresas Pfizer e BioNTech gerou alta resposta imune em trabalhadores da saúde. O efeito ocorreu independentemente da idade dos imunizados. A boa notícia vem de um consórcio de cientistas britânicos que divulgou uma prévia das análises desse estudo no site da revista especializada The Lancet. O trabalho, que ainda não foi revisado por pares, também mostra que o imunizante gera um nível maior de proteção em pessoas já infectadas pelo novo coronavírus. Os pesquisadores acreditam que os dados reforçam a eficácia da fórmula e a necessidade de proteger toda a população.
“As vacinas são uma parte crucial do nosso roteiro para sair dessa pandemia. Para maximizar o impacto delas, é fundamental que entendamos a biologia subjacente, a forma como induzem imunidade em diferentes grupos de pessoas”, afirma, em comunicado, Paul Moss, pesquisador da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e líder do consórcio de cientistas UK Coronavirus Immunology, que conduziu a investigação.
Nas análises, feitas entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, os pesquisadores avaliaram amostras de sangue de 237 profissionais de saúde e monitoraram a resposta de duas moléculas de defesa do organismo — anticorpos e células T — após a aplicação da primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech. Além da ação expressiva do sistema imune de 99% dos analisados, observou-se que, em pessoas que haviam sido previamente infectadas pelo patógeno da covid-19, as respostas de anticorpos foram 6,8 vezes maiores e as de células T 5,9 vezes maiores, quando comparadas aos não infectados.
Segundo os investigadores, esse fenômeno pode ter ocorrido porque, após receber o imunizante, o organismo de indivíduos já infectados passa a reconhecer mais regiões da proteína spike, a principal molécula do patógeno, responsável pelo ataque ao sistema imune humano. “Embora a resposta à primeira dose do imunizante tenha sido menor em indivíduos virgens de infecção, ela ainda era equivalente ou melhor do que a imunidade em indivíduos previamente infectados antes deles receberem a vacina”, complementa Thushan de Silva, pesquisador da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, e também autor do estudo.
Mais pesquisas
A equipe lembra que a primeira dose da Pfizer, analisada no estudo, e a de outros imunizantes, como o da Oxford/AstraZeneca, oferece bons níveis de proteção. Entretanto, para obter proteção máxima, é vital completar a abordagem. “Ainda é importante que todos sigam as diretrizes anunciadas pelos governantes e especialistas para receber duas doses da vacina, mesmo se achar que já teve covid-19. Ainda assim, precisa passar pelas duas etapas”, enfatiza Paul Klenerman, também autor do estudo e pesquisador da Universidade de Oxford.
Os cientistas adiantam que mais pesquisas poderão ajudar a melhorar a compreensão sobre as respostas imunológicas desencadeadas pelo imunizante a longo prazo. “Trabalhos futuros vão avaliar quanto tempo essas respostas à vacina duram”, afirma Susanna Dunachie, também de Oxford. “Curiosamente, além da resposta imune robusta em todos vacinados, nós descobrimos que a vacinação melhora a amplitude das respostas das células T ao vírus em indivíduos previamente infectados. Em imunologia, essas surpresas são muito boas. Nosso estudo reforça a importância de estudar mais esses dois aspectos.”
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