por Sylvia Colombo | Folhapress**Foto: Alan Santos/PR
As principais lideranças do centro e da esquerda chilena, apesar de convidadas, decidiram não ir ao almoço que será oferecido pelo presidente Sebastián Piñera ao brasileiro Jair Bolsonaro em Santiago, no próximo sábado (23).
Quem se pronunciou primeiro foi o líder do Senado, Jaime Quintana, do Partido pela Democracia, que disse que não iria ao palácio de La Moneda (sede do governo chileno, onde ocorrerá o evento) por "convicção política". E acrescentou: "Nem no almoço nem em nenhum evento da programação enquanto Bolsonaro estiver em solo chileno".
Quintana foi apoiado pela bancada de seu partido e causou debate nas redes sociais. Piñera respondeu que a atitude era antirrepublicana, e que o convite para o almoço foi feito a mais de 90 pessoas de diferentes partidos.
Quintana então postou: "Em uma visita oficial (não sendo de Estado), o Senado não tem obrigação de participar. O presidente Piñera nos convidou para almoçar para fazer uma homenagem a Bolsonaro, e decidimos não ir. Minha convicção não me permite homenagear aqueles que se manifestam contra minorias sexuais, mulheres e indígenas".
Políticos ligados à Nova Maioria, coalizão de centro-esquerda que substituiu a antiga Concertação, também afirmaram que não irão, principalmente pelo fato de o convite mencionar a palavra "homenagem", segundo a deputada Maite Orsini, da Revolução Democrática.
O vice-presidente do Senado, Alfonso de Urresti, do Partido Socialista, afirmou que não comparecerá porque Bolsonaro "é um perigo para a democracia do Brasil e da região". "É um ultradiretista que pode provocar muito dano para a América Latina."
Em entrevista à imprensa local, porém, fez a ressalva: "Esse é um gesto de protesto contra Bolsonaro, não contra o povo brasileiro". Do Partido Liberal, o deputado Vlado Mirosevic, que integra a comissão de Relações Exteriores da Câmara, disse que "o presidente não deve dizer que estamos sendo antirepublicanos quando Bolsonaro é que consiste numa ameaça ao republicanismo".
Outro tema que vem causando polêmica é que o convite para o almoço com Bolsonaro estabelece um "dress code" de ternos para homens e vestidos para mulheres.
Orsini foi uma das deputadas que criticaram a medida. "Evidentemente é uma celebração do machismo e da xenofobia do convidado do presidente Piñera. O governo tem de entender que estamos em 2019, e um convite assim não é aceitável."
Nas ruas de Santiago também é possível perceber a expectativa com relação à chegada de Bolsonaro. Na manhã desta quarta-feira (20), numa livraria do centro de Santiago, duas pessoas conversaram sobre um vídeo em que Bolsonaro, segundo eles, um fascista, ensina uma criança a fazer o gesto de uma arma com as mãos. Para eles, o presidente brasileiro está liberando Piñera a ir mais para a direita.
Outras pessoas, porém, opinaram que o encontro pode ser bom para o Chile. "Piñera tem medo de ser muito duro na área de segurança porque perderia apoio na esquerda, mas as propostas de Bolsonaro poderiam ser boas para o Chile também", disse o comerciante José Ojeda, 63.
O mandatário chileno tem tomado medidas mais duras na área de segurança, um tema muito discutido na imprensa local. Na última segunda-feira (18), por exemplo, Piñera mandou ao Congresso um projeto de lei para que pessoas que tenham entre 14 e 18 anos possam ser revistados pela polícia sem o consentimento dos pais.
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